quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Teorema





Por: Fabiana Ratti 

Teorema, filme de 1968 de Pier Paolo Pasolini, além de ser aclamado entre os cinéfilos pela crítica às instituições italianas, podemos dizer que, do ponto de vista da psicanálise, ele é muito interessante! O filme captura e transmite o forte poder das pulsões.

Entre tantos textos, Freud discute as pulsões em “Pulsões e suas vicissitudes” e diz que estas se localizam no limite entre o psíquico e o somático, ou seja, a pulsão está entre o corpo e as paixões da alma. Diferentemente do mundo animal que é marcado pelos instintos, pelas vísceras que delimitam terrenos, lutam por suas presas, por alimento e por descanso. No ser humano, sua sexualidade, desejos e vontades partem do mais profundo abismo interior e são marcados pelo mundo da cultura, da linguagem. Porém, o ser humano, de uma forma geral, não quer saber das regras, das leis, das marcas e limites que a sociedade constrói para que possamos nos relacionar uns com os outros.

Ao contrário, o ser humano, muitas vezes, vai em busca da plenitude. De satisfação das pulsões. Da plenitude narcísica. Não quer ver as marcas de impossibilidades que faz com que a família e a sociedade se organizem e funcionem.

O filme, de maneira contundente, aponta o que Freud apresentou no começo do século passado: o ser humano é um ser marcado pela sexualidade e de tudo é possível se satisfazer. Todas as formas de satisfações são possíveis. E, Pasolini retrata este imperativo das pulsões de maneira absoluta. Como psicanalista, ouço muito no consultório a questão de: quero prazer e satisfação a todo minuto de qualquer maneira, não importando os riscos, as consequências e as dores posteriores A satisfação pode ser em fazer algo ou por não fazer, por deixar de fazer.
Pasolini, através de seus personagens, mostra a busca de satisfação a todo instante. A satisfação com a futilidade, com o comodismo, com a alienação da burguesia, com a sexualidade.
Até mesmo a alucinação de uma santa reporta à demanda de satisfação. Quem não deseja a satisfação de um ser que já faleceu voltar para conversar com você e realizar seus desejos? Ou mesmo uma santa, descer e iluminar o seu caminho? Por que não o de outra pessoa? Porque existe ali um ser ‘pleno’, um ser que merece a descida da santa. Um ser iluminado. Diferente dos outros.
A busca de satisfação a todo custo impinge este sentimento narcísico de exclusividade e regalia, perto de outros seres humanos, reles mortais, que têm um custo a pagar por seus desejos, projetos e sonhos. Paga-se um custo e chega-se a uma realização. Pasolini apresenta personagens que não querem se haver com seus custos e preços a pagar perante as pessoas e a sociedade, mas tamém ficam seres sem desejo, sem sonhos. São apenas seres que deixam a vida correr, sonâmbulos que buscam o máximo de satisfação possível. E, ok. Todas as formas de satisfação são possíveis! Pasolini comprova isto: a satisfação dos prazeres é ilimitada. Vale conferir.

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