quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Fim do mensalão


 Em Antígona de Sófocles, já na tragédia grega, Creonte falou:



“Não há para o homem invenção mais funesta que o dinheiro. Ele é o que corrompe as cidades, afasta os homens de seus lares, seduz e conturba os espíritos mais virtuosos, e os arrasta às práticas das mais vergonhosas ações. Em todos os tempos tem ensinado torpezas e impiedades! (...) Sabereis assim, de que mãos se deve receber o dinheiro, e aprendereis que nem de tudo se deve esperar imerecido proveito. Os ganhos ilícitos têm causado muito maior número de prejuízos do que de vantagens! ”

 

Uma homenagem a um dos poucos atos de justiça que existem no país. Para que posições como a que  Joaquim Barbosa tomou frente ao mensalão ganhe força e traga um futuro mais digno ao Brasil.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O Pântano


Por: Fabiana Ratti, psicanalista 


Dizem que uma das principais diferenças entre teatro e cinema, além da presença física: ator-público, é o corte. É a maneira que o diretor decide fazer o corte dos planos, extrapolando assim, a interpretação do ator.  

O filme argentino, O Pântano (2001), de Lucrecia Martel, no meu ponto de vista, tem a capacidade de ser insuportável e fazer o espectador pensar, o tempo todo, que há um erro no corte, na montagem. As cenas são longas, demoradas, cansativas. Chegam a ser chatas, enfadonhas... É como se o tempo não passasse. Então, o filme acaba. E, há um efeito surpreendentemente retroativo! Que, penso eu, somente a arte consegue colocar este sentimento na materialidade de um filme.

A diretora consegue, com exuberância, materializar a característica humana da letargia, do marasmo, do nada. Quem nunca ficou no pântano, em alguma situação, atire a primeira pedra!

Buñoel, em 1962, com proeza semelhante, demonstra esta mesma prostração e falta de iniciativa humana com “O Anjo Exterminador”. Por que ninguém ali toma a iniciativa de abrir a porta?

Porém, Buñoel, por incrível que pareça, consegue ser mais ‘engraçadinho’. O espectador se entretém com alguns diálogos, com alguns personagens e cenas. Martel não dá uma folga! É pesado, amordaçante.

E, voltando para a questão do corte, os dois filmes têm um efeito retroativo. Com Buñoel, ao findar o filme, nos interrogamos: por que não pensamos (pensaram) nisso antes? Por que não agimos (agiram)?  Com Martel, nos deparamos com um sentimento diametralmente oposto ao que vivenciamos durante o filme. O efeito vem a posteri: que filme maravilhoso! Que capacidade de expressão! Indescritível!

O psicanalista francês, Jacques Lacan, trabalha com corte lógico nas sessões de psicanálise. Esses cortes geram polêmica. Muitos não o compreendem. Mas O Pântano expressa muito bem um dos pontos que Lacan enfatiza com o tempo lógico. Ele diz que o corte da sessão é para que o sujeito do inconsciente trabalhe não apenas na análise, mas fora da análise. Que perdure o efeito da sessão. Que a pessoa saia pensando a respeito de algo importante para ela. Algo novo. Inusitado. Segundo uma nova perspectiva de olhar. Os filmes de arte tem este compromisso. Que não seja apenas um entretenimento com começo, meio e fim. Que os pensamentos não fiquem apenas naqueles minutos que o filme está rodando.

Porém, O Pântano traz ainda mais esta questão de Lacan, por duas razões: o estado de pântano faz muitas pessoas buscarem análise. Pedirem ajuda. É angustiante ficar no nada. Ficar no vazio. A outra questão é que, para muitas pessoas, a análise é um pântano. Nem sempre é fácil fazer análise. Não é fácil se tratar, ver as próprias dificuldades e defeitos. Ainda mais, lidar com eles e se responsabilizar por eles, fazer transformações e mudanças. Por incrível que pareça, alguns escolhem não sair do pântano. 
É a partir do corte que o sujeito pode sair do estado de pântano. É a partir de cortes e montagens que construímos nossas histórias. Mudar a perspectiva de olhar e de se apropriar da vida, de projetos e sonhos que o corte propicia para quem tem coragem de enfrentá-lo!