quarta-feira, 23 de outubro de 2019

UNBEWUSSTE


UNBEWUSSTE significa inconsciente em alemão, língua mãe de Freud. UNBEWUSSTE parece uma palavra impronunciável para nós brasileiros. A princípio, ninguém entende, não sabe o que é e nem o que significa. Depois, é só olhar mais uma vez e está escrito: INCONSCIENTE. O logo é uma brincadeira, porque é assim o inconsciente. As manifestações do inconsciente nos fazem interrogações. O que é isso? Por que esse sintoma? Por que fiz esse ato falho nessa situação? Por que tive esse sonho tão estranho? E se fazemos análise, temos acesso ao nosso inconsciente e aos sentimentos e pensamos: AH! Era isso?! Tão óbvio! Estava ali na minha frente! Na minha cara e não tinha visto! O inconsciente está mais visível do que percebemos.  Segundo Lacan, o inconsciente deve ser lido. UNBEWUSSTE. Não tenha medo do seu inconsciente. Não ache que ele é mais inacessível ou incompreensível do que você pensa. Olhe melhor e você irá conseguir ler seu inconsciente. 




UNBEWUSSTE – excelência em saúde mental

UNBEWUSSTE – é uma clínica que oferece atendimento psicanalítico lacaniano. 
A missão da clínica UNBEWUSSTE é deixar a psicanálise e conceitos psicanalíticos acessíveis a um maior número possível de pessoas:
- Atendimento psicanalítico individual
- Atendimento casal e família
- Redes de atendimento clínico por endereços de São Paulo
- Supervisão clínica
- Supervisão institucional
- Debates clínicos
- Debates e palestras
- Desenvolvimento de projetos e montagens de empresas
- Divulgação de conteúdo e conceitos dos psicanalistas Sigmund Freud (1856-1939) e Jacques Lacan (1901-1981).




Le Horla de Maupassant e O Funeral Antecipado de Allan Poe, o medo e o horror na psicanálise


Em homenagem ao Halloween que é comemorado em outubro, vamos falar do que dá medo, do que assusta. Não posso ir pela filmografia porque essa minha coleção é realmente escassa. Acho que os únicos que consegui ver inteiros foram: “O Iluminado” dos anos 1980 e o “Sexto Sentido” dos anos 1990.

Mas autores como Guy de Maupassant, Emile Zola, Edgar Allan Poe, Théophile Gautier sempre rondam as minhas leituras. Um clássico da literatura é Horla, texto de Maupassant em que o sonho e a realidade se misturam. O pesadelo ganha proporções
inimagináveis onde o dentro e o fora se misturam, mostrando que não há uma fronteira entre o mundo externo e o interno. Desta forma, consequências graves acontecem chamando atenção para a seriedade de cuidar do aparelho psíquico.

Por seu lado, Allan Poe é um mestre. Tem inúmeros contos. Fantasmas, mortos, gatos assombrosos. Allan Poe brinca com o impensável, o irrepresentável, o que não poderia acontecer mas, quem sabe... O aparelho psíquico é assim. Ele vive criando alusões e fantasias de situações inimagináveis. Por outro lado, a vida apresenta, muitas vezes, tristes realidades que coloca o sujeito frente ao vazio da morte, da solidão, do que Lacan chama de o “impensável a espera de se inscrever”. Leva um tempo para ‘cair a ficha’, para a pessoa explicar e encontrar representações do horror que se abateu: uma traição, uma separação, uma morte, uma demissão inesperada.

É disso que o ser humano tem medo. Medo do medo. Medo do horror, da perda, da castração, do inesperado. Assistir aos filmes, ler contos e romances sobre o assunto instigam o aparelho psíquico a trabalhar. É como as crianças que brincam para elaborar seus pensamentos. Enquanto os monstros estão nas telas ou nas páginas dos livros, eles estão longe, separados, no mundo da ficção e assim, o ser humano pode entrar em contato com o que há de pior via sentimento e pensamento, longe da concretude da vida. 

Um dos contos de Allan Poe de que mais gosto é O Funeral antecipado. É a história de uma moça que é enterrada viva. Impensável. Horror do horror. Mas não somente ela consegue escapar de seu túmulo, como consegue reconstruir a vida casando-se com outro, pois em sua primeira vida, era infeliz no casamento. Como na época não havia divórcio, seria impossível se separar para reconstruir sua vida, porém, como havia sido enterrada viva por seu marido, tinha o atestado de óbito, assim, pode casar-se novamente com o amor de sua vida!!!

Contos fantásticos que misturam horror, medo, ilusão, sonhos impensáveis e humor negro dão o tom dessa brincadeira com chapéus de bruxas e cabeças de abóbora! Uns dias para brindar o impensável que existe em nós.   

Por: Fabiana Ratti, psicanalista

terça-feira, 1 de outubro de 2019

A Casa Torta e a construção de um Psicopata


A Casa Torta (2017) é um filme britânico de mistério, baseado no livro (1949) homônimo de Agatha Christie, que faz jus ao legado da Dama do Crime. O filme é muito bem interpretado por atores de peso e bem dirigido por Gilles Paquet-Brenne.

Casa Torta porque é uma grande casa que foi sendo construída ao longo do tempo e cada ala abriga uma parte da família, além disso, há uma brincadeira de Agatha Christie de que é uma família torta que nela habita.

A Casa pertence a Aristide Leonides, um grego que se mudou para a Inglaterra e fez fortuna; uma parte com o próprio trabalho e a outra com negócios ilícitos que são investigados ao longo do filme. Aristide Leonides é assassinado no começo por uma injeção que deveria conter insulina, mas continha veneno letal. Quem aplicou foi sua segunda esposa 50 anos mais nova. A primeira já havia falecido. Ela sabia de seu conteúdo? Seria ela a assassina?
Muito óbvio para ser um livro da Dama do Crime.

Sophia, a neta de 25 anos chama seu affair para investigar o crime, filho do Inspetor Chefe da Scotland Yard. Charles Hayward chega na casa taciturna e tenta falar com as pessoas, mas é em vão. Encontra a esposa 50 anos mais velha namorando o professor das crianças, a cunhada de Leônidas caçando no jardim, os dois filhos de Leonides com suas respectivas esposas, os 3 netos: Sophia, Eustace e Josefine, e a babá. Cada um numa ala da mansão, cada um com suas esquisitices e narcisismos envoltos em si próprios. Um dos irmãos reclama que agora, aos 55 anos estaria órfão e não saberia o que fazer... Retrata bem a morosidade, a letargia, a inércia em que a família se encontrava vivendo sugando o dinheiro do patriarca da família. A única tagarela era Josefine, neta de uns 10, 12 anos que andava pela casa com um caderno e observava a todos, dizia-se invisível, ninguém a via ou falava com ela.

Hayward é bem tenaz. Ele insiste, se esforça e tenta romper o silêncio, mas o único eco que encontra é a voz de Josefine. Agatha Christie lia Freud. Eram contemporâneos e em alguns livros ela cita a importância de interpretar os sonhos e de ver o lado psicológico das pessoas e das relações. Nesse ela faz o quadro perfeito da criação de um psicopata. Ela mostra o quanto a criança é um espelho da família, o quanto delata pontos que a família não está conseguindo ver ou colocar em palavras. A frieza, o descaso que o psicopata tem pelo outro e pela vida, o raciocínio intacto desprovido de emoções. Numa casa em que cada um olha para si mesmo, não há como criar um ser desejante. Para dar vida a um sujeito, não adianta apenas o biológico ou intelectual: os cuidados com sono, alimentação e estudo. É preciso muito mais. É preciso desejar aquele ser, é preciso ouvi-lo, escutá-lo. O olhar do outro sobre o sujeito é fundamental para a construção de seu aparelho psíquico, para que assim surja um sujeito desejante.

Agatha Christie, diferentemente de outros livros, deixa o assassino bem visível, facilmente perceptível se não tivermos horror da verdade. A escritora mostra como é possível a construção de um ser vazio, desprovido de emoções, que mata a sangue frio, típico do psicopata. O diretor, captando o espírito, narra de forma sublime através da sétima arte.

Por: Fabiana Ratti, psicanalista.