quinta-feira, 26 de dezembro de 2019






Agradeço aos queridos parceiros que fizeram o Projeto UNBEWUSSTE passar a ser uma realidade neste ano de 2019!

Wilsan Takeuchi – setor de marketing

Gabriel Oliveira – T.I.

Maria Lucrécia Peres Rodrigues – OCPR – Organização Contábil Perez Rodrigues

Jonas Ratti – advogado

Zemira Ratti – Advogada

Michelle Gimeniz – ABM Assessoria Brasileira de Marcas

Raquel Pereira – Setor administrativo

Rodrigo Gouveia – Facilitador de contatos

Clarissa Willets, Iara Lopes, Jessica Olivieri, Kadija Faioque – Área da saúde

Dedicados alunos, analisantes e supervisionandos

O apoio da família e em especial do meu querido marido Lugui!


Quais os desejos para 2020?






Che vuoi?

O que queres?

Qu’est que tu veux?

What do you want?


Quais os seus desejos para 2020?

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Alladin e os pedidos para o Ano Novo!



Para terminar o ano no ciclo contos de fadas, tivemos no cinema o filme Alladin e a Lâmpada Maravilhosa (2019) produzido pela Walt Disney. Final de ano é o momento de pensar nos pedidos para o ano novo, repensar o que foi conquistado nesse e nada como o gênio da lâmpada para refletir sobre os novos pedidos! 

Alladin faz parte dos contos Árabes e como todos esses contos, carrega uma sabedoria popular milenar. Alladin é um menino pobre que para sobreviver, faz algumas artimanhas, mas tem um coração bom e generoso. Um dia, conhece Jasmine na feira livre da cidade, não sabendo de sua origem real, os dois vivem uma aventura e se apaixonam. Paralelamente a isso, Jafar, o invejoso assistente do Rei, pede para Alladin resgatar a lâmpada mágica na caverna para ele. Como todo ser humano, Alladin tem um pedido... deseja pedir a mulher de seus sonhos para o gênio da lâmpada mágica.



A história de Alladin tem versões diferentes, mas sua essência é basicamente a mesma. A ideia de que só é possível conquistar os próprios sonhos com uma mágica: ou a lâmpada, ou uma feiticeira, um anel com poderes, um tapete mágico ou ganhar na mega cena. Estas ideias se repetem nas Mil e Uma Noites, compilado de histórias árabes, persas, indianas que percorreram o mundo através dos séculos.

De maneiras diferentes, com diversas estruturas narrativas e personagens alternados, os
contos da Mil e Uma Noites começam com a ideia de que o desejado está fora e o personagem terá de fazer muito esforço e depender do outro para conseguir o que deseja. Depois de tentativas fracassadas, assim como Alladin, o personagem central volta para casa, reflete, fica mais próximo de si, começa a olhar a situação com outros olhos e percebe que a riqueza, o poder, a mulher amada e a felicidade estão muito mais ao alcance de suas mãos do que havia suposto no primeiro momento. Assim, com reflexão, astúcia, generosidade e humildade, o personagem realiza seus sonhos com seus próprios poderes: estratégia, inteligência e amor.

Quando há ganância e para atingir o sonho é preciso destruir o outro, também não funciona e as consequências veem em revanche. A lógica e a essência que os contos árabes transmitem estão muito de acordo com o que a psicanálise postula e é observado clinicamente no divã. A concretização dos desejos fica muito mais acessível quanto mais próximo o sujeito está de si mesmo.  

Por: Fabiana Ratti, psicanalista 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Um conto de Natal e as escolhas que fazemos na vida


O belíssimo Um conto de Natal (1843) de Charles Dickens discorre sobre a emocionante história de um homem frio e calculista, mesquinho e ranzinza que reclamava da vida e não suportava a felicidade, as comemorações e os dias festivos. Ebenezer Scrooge tinha um escritório de contabilidade, o menor carisma e nenhuma amabilidade para com as pessoas. Deixava seu funcionário sem lareira no frio do inverno Europeu e cobrava se esse atrasasse um minuto, não cumprimentava as pessoas e mesmo sendo muito rico, solteiro e sem filhos, não ajudava as instituições sociais e as pessoas à sua volta.

Naquele ano, passando o Natal sozinho, como sempre fazia, Scrooge recebeu a visita de 3 espíritos. Um que o levou para a infância, sua cidade natal, para os amigos, a inocência dos primeiros momentos, sua família, seu amor. Era o fantasma dos Natais passados. O outro o levou para o presente. A cidade no clima de Natal, conhecidos e parentes que passavam o Natal sem ele. E o último e mais aterrador era o Natal do futuro. Qual futuro teria ele levando essa vida dessa forma que estava vivendo?
Charles Dickens é maravilhoso em seu conto. Ele transmite a ranzinzisse e a chateação de um homem que foi se fechando para a vida, para os amores, para os amigos. Seu único objetivo era ganhar dinheiro e foi vivendo uma vida dura, fria e triste sem laços afetivos e vida social.

Os fantasmas funcionam como psicanalistas que o fazem viajar pelo tempo, percorrer terras distantes e rever suas posições e decisões na vida. Ressignificar o passado para transformar o futuro, é isso que Scrooge consegue após sua viagem no tempo e nas emoções.

Chales Dickens também transmite o quanto o Natal é um momento de comemoração. É um tempo de repensar os feitos do ano, comemorar em família, rever os amigos, doar para os que não tiveram a mesma sorte. É um momento bonito de brindar a vida e sorrir, curtir o que foi conquistado e fazer planos para o futuro, sobretudo em termos de amor e amizade!

Por: Fabiana Ratti, psicanalista

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Contos de Sade e a Psicanálise Lacaniana


É a partir da obra de Marquês de Sade (1740-1814), que Lacan faz uma revolução em seu modo de pensar a psicanálise. Lacan investe na questão dos modos de gozo, no ano de 1959-60 com O Seminário A ética da psicanálise (1959-1960/1988) e depois com o texto Kant com Sade (1963/1998). Esses estudos são preciosos para acompanhar o desenvolvimento de Lacan, sob a perspectiva de que não existe um bem universal, existe o desejo singular. O ser humano lida, o tempo todo, com o engodo entre desejo e vontade. Entre o que diz querer e pensa querer e a direção que efetivamente segue ou consegue seguir.

Existem as escolhas inconscientes, para além do racional, uma necessidade em ficar numa certa posição subjetiva, uma compulsão à repetição. Ocorrem certas escolhas, em que o sujeito responsabiliza terceiros pelas consequências, mas que no fundo, são escolhas inconscientes que definem sua própria vida.  Assim, por melhores que sejam ou por mais que se esforcem, existe algo mais forte do que elas.

  Em Além do princípio do prazer (1920) Freud diz que as pulsões não tendem ao prazer, como ele pensara até então; as pulsões têm uma tendência enganadora, parecem tender para a vida, para a mudança, mas ficam na repetição e na mesmice. É a partir desse conceito de repetição da pulsão que Lacan nomeia o gozo como o excedente da movimentação pulsional.

Contemporâneo a Kant, Marquês de Sade o segue no ponto de vista de que o “Universo é incompreensível para o homem” (CARLSON, 1984, p.445) e que cada um captura um ponto da realidade, mas Sade faz um avanço. Percebe que o ser humano goza na alegria e na dor. Sade percebe que o ser é capaz de se humilhar, de rastejar, de sangrar física e emocionalmente por um minuto de júbilo. Ele relativiza o bem comum. Em sua obra, questiona a lei moral, a ideia de uma lógica única e de uma harmonia última a se atingir. Percebe que visceralmente o homem goza e isso não passa pelo sujeito racional, sublinha Lacan em Kant com Sade (1963/1998).

Nos contos, demonstra que há um custo para o ser humano lutar em direção ao desejo. A inércia, a repetição das pulsões, a escolha inconsciente de objetos que levam à dor, pode ganhar espaço e o sujeito pode se corromper, deixar o Outro controlar, ficar na queixa e na impotência. É como a primeira fase de uma análise. É preciso bastante esforço para sair da queixa e passar a posicionar-se como sujeito participante de sua própria vida. Sair de uma posição alienada para um projeto desejante.  De mocinhas e mocinhos bem comportados e vítimas de situações terríveis, na análise, as pessoas passam a enxergar que são personagens principais, amplamente responsáveis por seus destinos cruéis. Assim, através da tragédia, Lacan discute a ética do psicanalista e a ética do sujeito na escolha de seus obscuros objetos de desejo.

Por: Fabiana Ratti, psicanalista

sábado, 7 de dezembro de 2019

Cinquenta tons de cinza – o sadismo, o masoquismo e a psicanálise


A pedidos... vamos discutir Cinquenta tons de cinza (2015) dirigido por Sam Taylor Jhonson e baseado no best-seller de E. L. James. Narra a história da universitária Anastásia Steele que começa a ter uma relação sadomasoquista com o magnata Christian Grey. Esses filmes geram muitos debates e comentários, causam furor e como podemos ver, ressurgem em diferentes décadas como: O último tango em Paris na década de 1970, Nove Semanas e meia de amor nos anos 1980.


Na época em que foi lançado 50 tons de cinza trouxe muitos comentários ao divã, mas o pior deles era que o casal escolhido para o filme não tinha química. Uma pena! Para a sétima arte, logicamente, esse é um dos erros crassos afastando o público de sua arte.


O segundo ponto que mais apareceu foi a interrogação: por que isso acontece? Como começa? Como se instala o sadomasoquismo?


Para o conhecimento básico e fins de utilidade pública, o sadismo e o masoquismo são estruturantes do aparelho psíquico. Sim. Todos temos sadismo e masoquismo. Freud tem alguns textos em que explica o que vem primeiro, se eles estão juntos ou separados, mas de toda forma, eles têm uma função importante para a construção e manutenção do aparelho psíquico. A questão é como usar, como dirigir essas pulsões e o quantum de investimento psíquico que será canalizado para as funções sexuais.

A sexualidade e a agressividade, por excelência, em pedra bruta, são os dois resíduos que aproximam o ser humano do animal. Freud utiliza um termo para a criança que é bem interessante: perversa polimorfa. Muitas formas de satisfação. A criança, se não está satisfeita, chora a qualquer hora, grita, esperneia, usa sua agressividade e a sexualidade (satisfação pulsional, oral, anal...) indiscriminadamente. Faz qualquer coisa a qualquer hora. É a educação, a ação dos pais, a observação em relação aos outros amigos que vai dirigindo e canalizando para que as pulsões entrem no mundo da cultura, paguem o preço do mal estar na civilização e assim, o sujeito consiga ver o outro, esperar, aguardar a sua vez, não gritar ou chorar, mas utilizar as palavras. Usar outros recursos para chegar até o outro.

Num exemplo mais concreto, podemos dizer que aquele show que a criança dá por volta de uns 3 anos de idade, se atira no chão, chora e reclama sem parar é um exercício sádico de: basta eu, não interessa o outro e vamos ver até onde o outro me aguenta, até onde posso ir. É bem interessante que aqueles que estão na função de pais se posicionem e falem: não pode ir muito longe não, vamos parar! E coloque limites, faça intervenções. Essas intervenções são estruturantes para o aparelho psíquico norteando os limites possíveis da relação do eu com o outro.

Aqueles que não conseguem e têm dificuldade de enfrentar, sabemos que o exercício sádico se estende por inimagináveis situações, dias e noites a fio e é capaz de estraçalhar famílias e relações. Esse e muitos outros exemplos existem desse tipo de testar o outro, manipular, conseguir coisas por chantagens e jogos de poder. Como filhos e casais em relação a drogas, álcool, jogatina, até chegar na cama.

O masoquismo, por sua vez, não tem escapatória. (rs) Freud descreve três tipos de masoquismo e se não os três, de um deles, você padece. (rs) Auto destruição e boicote é inerente do aparelho psíquico! Da mesma forma que o sadismo, ele é estruturante, mas ao longo da vida precisamos ir nos livrando dele, se não, fica muito pesado, ou seja, faça análise. (rs). Mas, assim como o colesterol, podemos dizer que existe o masoquismo bom e o ruim. O masoquismo bom é aquela força que temos de passar por cima de nós mesmos para alcançar algo maior. Ou seja, acordar cedo, levar as filhas na escola, começar a trabalhar cedo, se esforçar, ir fazer ação beneficente, dar uma aula. São todas as formas que passamos por cima de um princípio de prazer para nos esforçarmos por algo maior. O masoquismo ruim é aquele em que o sujeito deixa o outro passar repetidamente por cima, sem respeito, sem troca, sem pudor, nem ganho próprio.

Em conclusão: filmes que colocam o sadomasoquismo na relação sexual causam um frisson maior. Porém, o sadomasoquismo está no cotidiano. Está no aqui e agora. E a questão é ver a proporção. Como psicanalista, o que observo é que essa ‘brincadeira’ de extrapolar a dor pode ser instigante, porém perigosa. Mais, mais e mais. Pode levar a uma destruição irreversível. É comum aparecer no jornal pessoas que morreram com asfixia ou instrumentos sexuais suspeitos. Porém, como disse, não somente na sexualidade, esse limite de destruição, masoquismo e sadismo acontece cotidianamente em relações de casal e familiar e as pessoas não percebem.

Podemos assim ir para nosso dramaturgo brasileiro preferido que diz: “ - Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível. Nelson Rodrigues” Aí podemos dizer que o que rola na cama é de interesse apenas do casal, se estão se entendendo, é o que importa. Mas nesta frase está embutida uma outra verdade, de cunho um pouco mais psicológico, que Lacan também fala e que transparece nos 50 tons de cinza. Para existir um casal, há que se pagar um preço. Uma dor existe, se não, tanto faz... pode ser uma mulher ou outra. Existem tantas... O que difere uma da outra? O preço que se está disposto a pagar pelo gozo que se obtém. Os casais dos filmes citados têm um dispêndio enorme de energia psíquica, muita fissura, assim como nas drogas, mas, por outro lado, muita destruição e até distanciamento. Para ter aquilo que desejamos, sempre é preciso pagar um preço alto, algo morde. A diferença é que alguns pagam um preço alto e em consequência encontram satisfações sexuais e  destruição. Outros, com seu modo de gozo, administram os limites do sadismo e do masoquismo e conseguem, além dos prazeres, construção, realização e felicidade. Como psicanalista, acredito que a diferença está ai... 

Por: Fabiana Ratti, psicanalista