quarta-feira, 18 de maio de 2016

Sonhos Tropicais






Por: Fabiana Ratti, psicanalista  
Já havia adorado Sonhos Tropicais quando havia sido lançado em 2001 e assisti no cinema. Neste final de semana assisti de novo com minhas filhas. Ele é espetacular. A direção de André Sturm é impecável, os atores são ótimos e os temas abordados de uma riqueza ímpar! 

O filme se passa na virada do século XIX para o século XX, no Rio de Janeiro. São duas estórias paralelas. A primeira narra o retorno de Oswaldo Cruz (Bruno Giordano) para o Brasil após ter passado três anos estudando na França. A segunda é sobre Ester (Carolina Kasting), uma polonesa que veio ao Brasil na promessa de se casar e na verdade foi comprada para trabalhar em um bordel. O filme se baseia no romance homônimo de Moacyr Scliar. 

Foram muitos os tópicos que pude abordar com as minhas filhas. A questão da prostituição, da violência doméstica, das doenças sexualmente transmissíveis. Na mesma linha, pudemos ver os esgotos a céu aberto no Rio de Janeiro, as pessoas morrendo de varíola e febre amarela, a falta de higiene, a dificuldade de saneamento básico. 

Agora, o mais incrível, triste, porém muito atual, foi ver o Rio de Janeiro, naquela época, passando pelos mesmos problemas que passamos hoje, mais de um século depois. O filme mostra Oswaldo Cruz, primeiro médico sanitarista que nós tivemos, batalhando para fazer prevenção de saúde e saneamento básico e o que ele encontra? Boicote político. Ele tenta implementar a obrigatoriedade da vacina, e recebe uma revolta popular, a conhecida “Revolta da Vacina”. Muito por falta de orientação e organização do governo. Na frase dos atores podemos ouvir a frase célebre que hoje ouvimos em nosso país: “Um mosquito destruindo uma nação!”

Naquela época, Varíola e Febre Amarela, hoje H1N1 e mosquito da dengue. Naquela época, o que causava tudo isso eram os esgotos e as sujeiras. Hoje, muitos esgotos continuam a céu aberto. Os cortiços deram espaços a grande favelas. Os interesses políticos continuam predominando sobre o saneamento básico e a atenção primária em saúde. 

André Sturm continue no caminho, você é um excelente diretor. Com assuntos tão sérios e polêmicos, você conseguiu deixar o filme interessante, divertido e agradável de ser visto. Os cortes são feitos nos momentos certos, o timing dos atores, o cenário... Tudo favorece esse maravilhoso e atual filme. Embora, seria bem bacana que um dia, ele deixasse de ser tão atual...