segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Dois irmãos





Belo filme, de grande sensibilidade na discussão das relações humanas. É um filme simples. Trata-se de dois irmãos: Marcos (Antonio Gazalla) e Suzana (Graciela Borges), cuja mãe faleceu e eles precisavam decidir e direcionar a vida deles a partir daquele momento da meia idade.

Como psicanalista, podemos ver que, nenhum dos dois irmãos batalhou por um projeto. Nenhum dos dois se realizava no trabalho, nenhum dos dois constituiu família, nenhum dos dois estabeleceu relações mais fortes de amizade, haja visto o enterro da mãe que estava vazio e um outro exemplo é o fato deles poderem se mudar de cidade sem nenhuma grande suscetibilidade em suas vidas.  Não estabeleceram laços, não fizeram vínculos. Não batalharam arduamente por algo singular, o que os deixava solitários e inertes pela vida.

Havia uma diferença forte entre os dois: Marcos era gentil, calmo e doce nas palavras. Suzana era arisca, mandona e grossa, o que leva o expectador a um engodo maniqueísta de que ela é má e ele bom. Mas são apenas fenômenos, apenas uma casca, no fundo, no nível das pulsões, ambos tinham muitas dificuldades em nomear e batalhar por seus desejos.

Suzana era controladora. Organizava tudo como queria, fazia o que bem entendia, ignorava o outro e dizia para o irmão que este ainda tinha de ficar feliz pois, se não fosse ela, ele não teria nada nem ninguém.

Marcos, submetido aos caprichos e ao temperamento da irmã, não se posicionava, não se defendia, não batalhava por outro modo de relacionar-se no e com o mundo.

Esta forma de relacionamento é muito usual. Entre entes da mesma família, entre amigos, entre casais, na relação professor-aluno, etc. O filme tem frases ontológicas que demonstram a realidade de pessoas que ‘não se encontraram’ (como usualmente é dito) e assim, ‘precisam’ controlar o outro, como forma de elevar o próprio ‘ego’ e, na relação dual, na mesquinharia, poder elevar-se e não se dar conta das próprias mazelas e de tudo o que é preciso batalhar para se ter uma vida digna. Isto é perceptível quando Suzana reencontra uma velha amiga e esta faz elogios rasgados a seu irmão, Suzana pensa estarem falando de pessoas distintas. Aquele que controla tem necessidade de rebaixar o outro para que assim, no efeito gangorra, possa sentir-se elevado, porém é um efeito de pura satisfação imaginária. Não traz benefícios realmente produtivos para nenhum dos dois membros.

O Filme de Daniel Burman consegue fazer a virada. Marcos não se sujeita mais à ordem da irmã e começa a lutar por sua vida. Num primeiro momento, traz grande sofrimento para a irmã, mas depois, os dois percebem que é a única forma de realmente existirem, um reconhecer o outro como distinto e separado e cada qual batalhar por seus projetos, numa outra forma de união.   

  • Categoria:filme
  • Gênero:dram
  • País / Ano: Argentina / 2010
  • Duração: 105 minutos
  • Direção: Daniel Burman
  • Elenco: Graciela Borges, Antonio Gasalla

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