quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016





Para sempre Alice e A Incrível história de Adalina



                                                                                                            Por: Fabiana Ratti, psicanalista 


Para sempre Alice (2014), é um drama Americano estrelado por Julianne Moore que merecidamente recebeu o Oscar e o Globo de Ouro por sua maravilhosa atuação. Alice é uma professora Universitária reconhecidamente inteligente e brilhante. Casada, com três filhos já adultos, está por volta de seus 50 anos. De uma hora para outra, começa a ter perdas de memória. Um local, uma palavra, uma situação. Com repentinos flashes sua memória se apaga.

A princípio, tenta esconder, disfarçar. Procura um médico e o diagnóstico é fulminante. Alzheimer precoce geneticamente transmitido. Toda a sua vida muda e a doença evolui vertiginosamente rápida. Como psicanalista, o que mais me fez pensar foi o efeito de aprisionamento a um corpo. Lacan discute bastante o quanto o corpo é uma junção do órgão (biológico) + aparelho psíquico. O quanto um está sujeito ao outro e vice-versa. Alice está aprisionada a seu corpo, a seus limites, a sua doença. Sua vida ficou restrita. Toda a desenvoltura que tinha antes foi sendo perdida e um corpo abandonado foi surgindo no lugar. De uma hora para outra ela estava bem velha, tendo quase a mesma idade de antes.

Um outro filme que podemos observar o mesmo ponto mas que é diametralmente o oposto é A Incrível história de Adalina (2015). Esse, bem mais leve e divertido, um romance fantasia, mas interessante da mesma forma, pois nos coloca uma situação hipotética e surpreendente: “E se ficássemos jovens eternamente?”, “E se a idade não passasse para nós?”.
Posso dizer que esse sonho é muito sonhado nos divãs como uma vida paradisíaca. Um mundo idílico onde só existiria maravilhas. Beleza, juventude, saúde, alegria. Porém, Blake Lively como Adalina quebra esse sonho e nos aponta os possíveis problemas de uma pessoa que fica parada no tempo, eternamente jovem, enquanto todos a sua volta envelhecem.
No meu entender, são dois filmes, duas situações bem diferentes em que o sujeito fica aprisionado em seu corpo. Em nosso mundo atual construímos a ideia de que se fôssemos eternamente jovens, fugiríamos das dificuldades e agruras da vida. Num linguajar psicanalítico, fugiríamos da castração, de tudo o que é ruim. Da doença, da velhice, da tristeza. Adalina nos afirma que não. Que não há como fugir da castração.  

Adalina, diferentemente de Alice, fica por muitos anos deslumbrante. Sua filha segue o caminho normal da vida, e assim, com o tempo, parece ser sua mãe. Adalina muda várias vezes de identidade, de cidade, de trabalho. Não faz amigos, não namora. Assim como Alice, distancia-se da vida, para não passar a ser um objeto de estudo para médicos e cientistas.
Desta maneira, o ponto que venho ressaltar destes dois filmes é a importância do sujeito ficar mais tranquilo de que sim, estamos todos aprisionados a nossos corpos. Existem limites sim. Não há como fugir da castração. Não há como negar a idade.  

Uma coisa é o sujeito utilizar muitos produtos de beleza, fazer esporte, raciocinar a roupa que melhor esconde as perfeições. Ou seja, acompanhar o tempo da melhor forma possível. Outra coisa é fazer todas as operações plásticas para voltar a ter 17, ou usar roupa de adolescente, ou ainda, ter comportamento de 17 sem acompanhar a vida incluindo a castração. Incluir que em todas as fases da vida existe o lado bom e o lado não tão bom assim, e deixar de pensar que, hipoteticamente existiria uma idade ideal, um tempo ideal, um paraíso despido de infortúnios. E que a juventude e a beleza guardariam esse tempo.

Para a psicanálise, existe um grande paradoxo. Do que todos fogem é da castração. É dos limites e das imperfeições. Paradoxalmente, é ver a castração, conhecer os limites e assumir o próprio corpo, com suas maravilhas e imperfeições, é que faz o sujeito conseguir desfrutar de seu corpo e de seu tempo.  É linda a cena em que Adalina descobre um fio branco em seu cabelo, ela fica feliz e nós espectadores respiramos aliviados... o feitiço se quebrara. Adalina voltara a ser mortal. Somente assim conseguiria realmente desfrutar de seu corpo e de sua vida!