quinta-feira, 22 de março de 2018

Dark - série




Dark (2017) é uma série de drama e suspense que se passa numa vila da Alemanha. Parte do sumiço de 2 crianças e o roteiro gira em torno de quatro famílias daquela região. É uma entre algumas séries cujos personagens viajam no tempo. A princípio podemos dizer que é uma réplica do inconsciente. O aparelho psíquico se movimenta como a série mostra. Ele tem suas próprias leis e às vezes parece um túnel escuro onde atravessamos do presente para o passado e para o futuro.

O tempo da série não é como as outras que marcam algo mais próximo do racional com começo, meio e fim, com uma lógica temporal que todos acompanham. Não. Não sabemos se estamos no futuro, no passado ou no presente. E, segundo Freud, essa é a atemporalidade do inconsciente. Tentamos fazer algumas marcações temporais para nos organizar, mas o tempo é descontinuo e segue uma lógica do desejo. Em segundos podemos atravessar o tempo e o espaço com nossos pensamentos.  


Dark fala em triangulação, como se todo o casal tivesse uma terceira pessoa inserida. Para a psicanálise, isso também é uma verdade. Não necessariamente uma traição erótica, pode ser a mãe, o pai, um irmão, um filho, um amigo, um trabalho. Existe uma força que ‘puxa’ o sujeito para várias paixões e é preciso muita decisão para se vincular de fato ao objeto de desejo. Mesmo porque a pessoa amada é uma figura esférica, nos traz alegrias e algumas incompletudes, o que faz essa força ficar ainda mais forte causando uma triangulação nos casais.  

O terceiro ponto é a repetição. Na série eles falam sobre uma repetição de 33 anos, para a psicanálise não seria exatamente esta data. Freud fala em “compulsão à repetição”, uma repetição que se impõe sobre aquilo que não foi elaborado. O que não foi simbolizado retorna no real. Vivemos repetições, que às vezes seguem gerações, até desvendar os mistérios e enigmas das leis do inconsciente.  

O quarto ponto que se assemelha muito à psicanálise lacaniana é que no último capítulo falam em topologia e utilizam um nó topológico para representar presente, passado e futuro, o mesmo que Lacan utiliza para representar os registros do inconsciente.

Um aspecto interessante é que parece que a série não oferece ponto de identificação. Muitas pessoas podem ter gostado da série, mas não parece ser uma série que puxe a identificação do espectador... Sem identificação não tem amor. A identificação é o primeiro passo para o amor. Como uma série que fala tanto a linguagem do inconsciente não inclui o amor?