sábado, 25 de maio de 2019

Os Incríveis e seus talentos



Os Incríveis (2004) e Os Incríveis 2 (2018) são filmes de animação produzidos pela Pixar e distribuídos pela Walt Disney, escritos e dirigidos por Brad Bird.


No começo de Os Incríveis, os super heróis estão banidos de atuar e precisam ficar fazendo trabalho burocrático, escondendo seus talentos, levando a vida na mesmice e na mediocridade do dia a dia. É um pouco a sensação que sentimos sobre as injustiças da vida. O quanto, muitas vezes, pessoas incompetentes e até maldosas ocupam cargos de liderança, enquanto pessoas talentosas, generosas e que realmente fazem a diferença, ficam excluídas de sua atuação.

Mas, como a psicanálise enfatiza, é preciso seguir o desejo, o talento, aquilo que cada um tem de melhor para oferecer, aquilo que faz do sujeito UM. Singular e único.

Beto, o pai, é forte. Helena, a mãe, é elástica. Vitória, a filha adolescente, se fecha numa bolha e protege a família. Flecha, o filho menor, é veloz. E o bebê também tem super poderes. Eles são os ‘Supers’. Além da parceria com Lúcio, gelado, ‘Super’ amigo da família que aparece nas situação mais difíceis para proteger e ajudar a família a fazer o bem na cidade. Inteligentes e estratégicos, mesmo banidos, não resistem em usar os seus talentos em prol de fazer uma diferença para a humanidade.

O que é interessante em Os Incríveis 2 é o quanto é difícil para todo ser humano lidar com o cotidiano e com as próprias fraquezas, como arrumar a casa, cuidar de um bebê, dar aula de matemática para o filho, ajudar uma adolescente na relação com o namorado. Mesmo os superpoderosos têm seus pontos fracos e saber lidar com eles, faz uma grande diferença no caminhar da vida. Por outro lado, também podemos pensar o quanto esses personagens são mais humanos do que parecem. Lógico que vemos no filme um grande imaginário, um mundo da fantasia computadorizado que rompe a lei da física. Porém, muitas vezes, as pessoas creem terem menos poder do que realmente têm, o que faz com que elas se subestimem e não exerçam todo seu potencial,  Se observarmos bem, cada um tem seu super poder. A questão é saber identifica-lo, nomeá-lo e investir nele para que grandes conquistas possam ser feitas.


Outro ponto interessante é a parceria em família. Não importa a idade ou o sexo, cada um ali tem seu talento e é respeitado em seu potencial. Mesmo havendo uma hierarquia e um comando dos mais velhos, naquilo que a criança contribui com seu poder, ela é ouvida e respeitada. As briguinhas de irmãos ou as diferenças entre cada um deles se anula quando a responsabilidade os chama. Isso é o que Freud chama de ‘narcisismo das pequenas diferenças’, saber ultrapassar as diferenças e conseguir se unir em prol de um projeto, em prol de um objetivo maior, essa é uma das funções da análise. Barrar satisfações equivocadas e direcionar o psíquico para realização de desejos que gerem construção.  

Por: Fabiana Ratti, psicanalista lacaniana


   




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