quarta-feira, 2 de maio de 2012

O silêncio de Lorna





Por: Fabiana Ratti, psicanalista

Em O Silêncio de Lorna, os irmãos Dardenne, Luc e Jean-Pierre, diretores belgas, conseguem demonstrar de forma magistral o quanto, no surto psiquiátrico, os fenômenos elementares, por exemplo: como ver e ouvir vozes; podem ser excelentes meios de defesa e proteção da saúde psíquica e integridade física do sujeito. Paradoxalmente, ao que sempre escutamos...

O roteiro, que levou prêmio em Cannes em 2008, narra a estória de Lorna, muito bem interpretada por Arta Dobroshi, uma emigrante albanesa. Lorna deseja abrir uma lanchonete com o namorado Sosho, para tal, ela precisa de dinheiro e da cidadania belga. Então ela tem a ‘ideia brilhante’ de se unir a Fabio (Fabrizio Rongione) e assim os dois decidem que ela deve se casar com o viciado Claudy (Jérémie Renier) e, após a cidadania conseguida, devem matar o viciado. O segundo passo do plano é casar-se com um mafioso russo. Dessa forma, conseguiria dinheiro e cidadania.

 Um ‘plano fácil’ com assassinato e máfia envolvida. Pessoas da pesada do mundo do crime. Qual a possibilidade de Lorna estar sã ao topar uma loucura dessas?

A questão que o filme também trabalha é que há um conluio entre questões humanas e sociais. O quanto não são poucos os casamentos arranjados que estão acontecendo atualmente na Europa e EUA? Este tipo de situação a qual Lorna passou parece ser uma questão recorrente nos países de primeiro mundo. E as pessoas perdem a noção do perigo, o senso de percepção de realidade, banalizam as situações, por exemplo: por que não matar um viciado?

Lorna parece determinada e muito pragmática. Organiza sua vida em função de seus objetivos. Porém, para Lorna, existem limites, diferente da organização que está por traz. Ela tenta batalhar para que não seja preciso matar Claudy. A trama vai se desencadeando e os irmãos Dardenne mostram uma sociedade implacável e cruel.

Lorna não segura as pontas. Porém, não consegue falar com palavras, não se posiciona, não recua... Porém, seu aparelho psíquico se manifesta como que tendo vida própria: tem uma gravidez psicológica, ouve vozes... Para se chegar aos objetivos vale qualquer custo? (o filme interroga)

Este filme justifica uma posição crassa que a psicanálise tem a partir de Freud: não adianta tirar o sintoma. É preciso verificar em função de que o sintoma está se manifestando... 

No caso, parece que o aparelho psíquico de Lorna percebe o perigo e se manifesta... do meu ponto de vista de analista, é o que a salva!

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