segunda-feira, 23 de abril de 2012

A Escolha de Sofia





Filme americano que ficou bem conhecido na década de 1980, dirigido por Alan J. Pakula e baseado no romance de William Styron. O filme discute o anti-semitismo, sobretudo o dilema de Sofia, interpretada por Meryl Streep, judia polonesa, presa num campo de concentração durante a Segunda Guerra que é forçada, por um soldado nazista, a fazer uma das piores escolhas que um ser humano seria capaz de fazer: escolher entre seus dois filhos para ser morto. Não escolhendo, ele ameaçava matar os dois.

Sofia fica frente a um dilema inconcebível para a natureza humana, como tantas agruras inconcebíveis nesse período da história. A questão é que escrevo sobre esse filme pois muitas vezes, no consultório, lembro-me da ‘escolha de sofia’e o pior, pessoas que se colocam frente a um dilema, e não se dão conta que estão amputando um braço para ficar com outro.

Como psicanalista, vejo que a vida é feita de escolhas. Como diz Lacan, existe o ‘Não-todo’, ou seja, não é possível ter tudo, é preciso escolher. Cada escolha vai construindo e marcando um caminho. Muitas vezes, sem volta, caminhos que levam a conseqüências maiores e que traçam percursos levando a novos e diferentes horizontes.

Lógico que algumas vezes, a vida apresenta dilemas que ultrapassam os limites do humano, assim como no nazismo e em outros momentos históricos. Porém, penso que o mais freqüente é a pessoa, ofuscada por seu inconsciente, se colocar em situações de dilema sentindo que ‘não há saída’. A pessoa sente-se numa escuridão e acredita piamente, por exemplo, que para ter sua vida profissional, precisa deixar a vida amorosa, ou que para ter felicidade precisa deixar a vida familiar, etc. Não há lógica nesse tipo de formulação. Por que para ter algo de um âmbito seria preciso deixar outro?

A questão é que haverá sim uma perda. Para ter os dois, será preciso haver diálogo, fazer esforço, abrir mão de uma situação ou outra. Para não ter de raciocinar, para fazer tudo no atacado ao invés de fazer no varejo, a pessoa decide amputar uma fatia da vida para ‘sofrer menos’. O que vejo no consultório são as conseqüências dessa atitude. Sofrimentos atrozes de anos de sangramento por amputar uma parte de si, e desta forma, muitas vezes, a pessoa perde os dois, pois, com tamanho sofrimento, não consegue investir e curtir o lado escolhido.    

Neste ano o filme faz 30 anos! É muito bem feito em sua realização e discussão sobre o nazismo. Um grande exemplo que nos aponta que de fato: há momentos cruciais em que não há escolhas.

Por outro lado, nos faz refletir que em nosso cotidiano, muitas outras vezes, existem sim escolhas; a questão é nosso empenho e dedicação para que não precisemos abrir mão de grandes sonhos mas de pequenas práticas e hábitos que possam concatenar mais de uma bela escolha!

Nenhum comentário:

Postar um comentário