sábado, 26 de maio de 2012

Frida



Por: Fabiana Ratti, psicanalista


De vida curta, porém tempestuosa, a artista plástica mexicana Frida Khalo (1907-1954) tornou-se um grande nome com sua pintura surrealista.

O filme americano Frida (2002), dirigido por Julie Taymor e interpretado por Salma Hayek, mostra um bom retrato da biografia de uma menina que passou muitos sofrimentos na infância. Com acidentes e graves doenças, aos 18 anos teve um acidente quase que fatal num bonde, fazendo com que ficasse por meses sem poder sair da cama. Com o tempo passado na cama, começa a desenvolver a pintura, uma forma de expressão que foi ganhando seu coração e o do público. 

Frida Khalo é uma personalidade. Com talento e ousadia, conquistou seu espaço no meio artístico. No amor, teve um casamento aberto com Diego Rivera (Alfred Molina), também artista plástico e namorador.

Como é preciso escolher um tema no filme para a discussão, escolho a questão do casamento aberto. Muitos dizem que o natural do ser humano é a poligamia. Sim. Freud mesmo diz que o ‘inconsciente é assexuado’. O inconsciente é regido por outras leis, diferente do racional. Para o inconsciente não existe tempo ou espaço. Tudo pode. Tudo é permitido. Haja vista o sonho... quantos símbolos, imagens e emoções misturados? O sonho é um raio X do inconsciente. Ou seja, o natural é a poligamia.

Porém, quem diz que o ser humano é um ser absolutamente natural? O ser humano vive em sociedade. É o único ser dotado de razão. Para tanto, tem alguns privilégios mas também paga um preço por isso... e o preço da civilização é o ingresso no mundo das leis, das regras: não matar, não roubar, olhar dos dois lado para atravessar a rua, etc.

Ou seja, para viver ao lado de uma pessoa, também é preciso incluir as regras. Para conviver com o outro, as pessoas discutem desde pasta de dentes e uso de shampoo até as regras de comportamento , que, num casamento, na maioria das vezes, no mundo ocidental, inclui a monogamia.

Toda esta discussão para dizer que o filme Frida retrata uma guerra. Uma guerra dolorosa e sangrenta entre Diego Rivera e Frida Khalo. Tudo era permitido no relacionamento, eram liberais. Porém, Frida Khalo fica decepcionadíssima, um golpe profundo quando descobre que Diego dormia com sua irmã.

Por que a surpresa? Não era liberal? Ah, mas isso não podia. Por que não? Se não existem regras... tudo é permitido. Tudo. E precisa estar disposto às conseqüências quando se faz este pacto. Como já discutimos com os ‘Irmão Karamasov’: se Deus não existe, tudo é permitido. Se não existe algo, uma lei maior que rege o relacionamento, tudo passa a ser permitido. (na monogamia ou na poligamia é preciso incluir as regras). A questão é que a pessoa, quando exclui as regras, deixa a face humana (racional e emocional) e cai na vida animal: sexo e agressividade. Era o que rolava com o casal. Uma evidência da importância das regras no mundo da civilização... se não, nos tornamos quase animais. 

Uma tristeza as seqüelas emocionais e o desamparo que se abatia em Frida Khalo com os golpes no relacionamento. Um preço muito alto por uma falsa ilusão de liberdade...

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