terça-feira, 18 de outubro de 2011

O Concerto





Por: Fabiana Ratti 

Com muita graça, leveza e diversão, o Concerto do cineasta Radu Mihaileanu, narra a trajetória de Andrei Filipov (Aleksey Guskov) exímio e talentoso maestro russo que perde seu posto e fica trabalhando de faxineiro para o Teatro Bolshoi. Um dia, após anos de humilhação, intercepta um fax e faz deste acaso uma oportunidade para refazer seu nome ou, pelo menos, ter um momento de glória, usufruindo de sua cultura, de seu talento e de seus colegas e amigos da ‘velha guarda’, numa apresentação em Paris.

Andrei tem 15 dias para montar a orquestra e negociar todos os detalhes para a apresentação: de passaportes e roupas à perfeita harmonia do som. Ao longo, o filme vai  mostrando as misérias vividas pelos soviéticos, sobretudo, o quanto foi preciso abandonar o sonho da música. Andrei passou anos distante de seu desejo, sem exercitar seu talento musical, assim como, cada músico angariado ao longo do caminho, mostra um fragmento desse ‘tempo perdido que os anos não trazem mais’.

Podemos dizer que O Concerto é um filme que se pauta no sonho. No sonho de realização de um talento. Aponta como é cruel um mundo em que é decretado que alguém, por sua raça, sua cor ou sua condição, não têm direito à vida, a seus sonhos... a executar e a realizar seus talentos profissionais e artísticos. O filme toca em questões profundas a respeito da exclusão de pessoas e religiões e vai mostrando uma série de talentosos músicos exilados de sua profissão como conseqüência de reformas políticas e econômicas de seu país.      

E, vai além...

Quem estuda teatro, cinema, literatura, as artes em geral, costuma dizer que não importa o que é contado mas como é narrado, de que forma, com quais nuances. O Concerto, traz ao fundo de sua narrativa, também uma discussão secular: qual a origem? Quais os verdadeiros pais? Qual a história oficial? Esta interrogação é feita pelo texto mais lido e estudado pelo mundo da psicanálise: Édipo Rei de Sófocles, que pode ter suas nuances e particularidades, mas discute, essencialmente, a cegueira de Édipo frente a seus progenitores.

Este é um tema que prende a atenção e emociona. É narrado das mais diferentes formas ao longo da história, podemos até citar, entre tantos, o clássico Star Wars de George Lucas, com suas disputas de poder e efeitos especiais, o núcleo central, o grande suspense final é marcado pelo desconhecimento de Luke Skywalker por sua verdeira origem paterna.   

Pode parecer estranho aos olhos racionais, mas na vida real essas aventuras e desventuras se repetem, é muito comum a omissão ou mesmo as histórias gongóricas e rebuscadas que ofuscam a história oficial marcada, muitas vezes, por intrigas e traições,  temores, jogos de poder, arroubos amorosos ou simplesmente por uma versão inicial que não é mudada ao longo da vida, mas que marcam de maneira substancial a vida de um filho.

Radu Mihaileanu consegue, pela comédia, discutir pólos densos e sérios: a questão da origem de uma pessoa e a questão de uma sociedade que mutila vidas, talentos e sonhos e o sofrimento que é quando um passa a ser conseqüência do outro. Não percam!

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