sábado, 8 de outubro de 2011

A História Oficial




Por: Fabiana Ratti


Continuando na linha latino-americana... A Hitória Oficial é um drama argentino de 1985, escrito e dirigido por Luis Puenzo. O filme mostra, de maneira assumbrosa, a força e o poder que o inconsciente exerce sobre a vida de uma pessoa, chegando a cega-la em seus valores mais íntegros.

Alícia, muito bem interpretada por Norma Aleandro, é uma mulher de classe média, casada com Roberto (Héctor Alterio) também excelente em seu papel. Alícia é contemporânea ao regime militar que assolou o país de 1976 a 1983 e, Luis Puenzo faz uma armadilha: Ela é professora de história e, paradoxalmente é alienada, ‘não sabe’ das atrocidades que aconteciam durante a ditadura de seu país.

Seria isto possível? É possível encontrar críticos que dizem isto ser um erro de roteiro. Muito ao contrário, isto que torna original o premiado filme A História Oficial. Em função do que estaria esta cegueira? Como uma professora de história não sabe das conseqüências de uma posição política de seu país? O inconsciente provoca resistências para não ver, quando ele precisa acobertar algo ainda mais precioso. E Puenzo vai mostrando isto no decorrer do filme. Mostra quando Alicia tem seu primeiro lampejo, seu primeiro ‘insight’ de que algo estava estranho, algo estava errado em sua casa. Um primeiro momento em que se dispõe a ver e a ouvir sobre a ditadura através da fala de uma amiga próxima.

O inconsciente é assim. Podem muitos falar, comentar, sair na televisão, etc. Mas existe um momento em que ‘cai a ficha’, que uma ‘outra cena’ surge e não há mais como conter, não há como voltar atrás... E é isto que é patente com Alicia. A partir de um momento, ela se abre para um ‘querer saber’. Por entre episódios políticos como a manifestação das Mães da Praça de Maio e religiosos como a interrogação da posição da igreja a respeito das torturas e consequencias da ditadura, Alícia busca a história oficial de sua família com belas e fortes cenas com discussões sérias e profundas.  

De longe um filme belíssimo que retrata o preço que o ser humano paga para não precisar ver e não mexer em questões afetivas passando a ser, conivente com o regime, usufruindo de sua insensatez, fomentando em sua própria casa personagens ativos de uma posição que não compartilha e contribuindo silenciosamente para com um sofrimento que racionalmente, de nenhuma forma, gostaria de contribuir. Como diz Freud “Não somos senhores em nossa própria casa”. Um filme que merece ser apreciado! 

Diretor: Luis Puenzo
Elenco: Héctor Alterio, Norma Aleandro, Chela Ruiz, Chunchuna Villafane, Hugo Arana.
Produção: Marcelo Piñeyro
Roteiro: Aída Bortnik, Luis Puenzo
Fotografia: Felix Monti
Trilha Sonora: Atilio Stampone
Duração: 112 min.
Ano: 1985
País: Argentina
Gênero: Drama




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