terça-feira, 16 de agosto de 2011

Last Days



Por Laís Olivato e Bruno Guilherme Fonseca

O filme de Gus Van Sant de 2005 é uma cinebiografia fictícia sobre os últimos instantes da vida de Kurt Cobain, ex-vocalista da banda Nirvana. Blake (Michael Pitt) é um artista introspectivo perturbado pela solidão que acompanha a sua vida de sucesso. A construção do personagem obedece à lógica dos outros filmes do cineasta. Com poucos diálogos, a narrativa se desenvolve a partir de cenas agonizantes fruto dos delírios do protagonista.
A temporalidade é um outro elemento curioso em Last Days. Para retratar a confusão mental de Blake, as cenas parecem descoladas do tempo real. Assim, quando o personagem se debruça a escrever sua carta de suicídio, uma criança cruza sua janela evocando possivelmente sua infância. Com o jogo de cenas em tempos e espaços diferentes, Gus Van Sant nos dá a dimensão de um vazio perturbador.
A falta de coerência em sua narrativa trata-se exatamente da vida sem sentido  em que seu personagem se deparava. Isolado nas ruínas de uma antiga casa de campo medieval, Blake se relaciona apenas com a sua própria natureza. Este ponto é revelado na escolha da fotografia do filme. Logo nas primeiras cenas, Blake aparece maltrapilho numa cachoeira. Em seguida, acende uma fogueira no meio de uma floresta e olha fixamente para esta paisagem. O mergulho em si mesmo sem nenhuma companhia parece perturbar seus pensamentos. Esta é a solidão introspectiva de seus últimos momentos.
Indisposto com o mundo, com as pessoas e com a própria vida, a trajetória final de Blake traçada por Gus Van Sant nos leva a refletir não apenas sobre a biografia de Kurt Cobain, mas sobre o desespero oriundo de uma vida que perdeu sentido e, acima de tudo, de um homem que perdeu o controle por si mesmo. Num último fôlego para recuperar-se, opta pela morte.
A película tem poucos diálogos, o que acaba sendo irrelevante, já que ele constantemente te convida a entender uma mente tão peculiar, incapaz de traduzir de uma única maneira. O diretor ainda brinca com a câmera (ora estática, ora em seguindo os personagens), com as metáforas e cores frias. Mas o maior diferencial está na maneira de conduzir um filme biográfico sobre uma personalidade que, indiscutivelmente, abusava das drogas. Contudo, ao invés de explorar o problema causada pelo uso de entorpecentes pelo personagem, o diretor prefere criar um personagem tão alheio ao mundo externo que as drogas são apenas mais um elemento para seu afastamento progressivo do mundo social. Gus Van Sant aborda a questão apresentando um ser humano indiferente ao mundo externo e, acima de tudo, imerso em depressão e “desencaixe social” que culminariam em seu suicídio.

Last Days – Últimos Dias Últimos Dias 
 País de origem: Estados Unidos
Ano: 2005
Direção: Gus Van Sant
Roteiro: Gus Van Sant
Elenco original: Michael Pitt, Asia Argento, Lukas Haas

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