quarta-feira, 10 de agosto de 2011

As asas do desejo






Por: Fabiana Ratti
Asas do desejo, de 1987, escrito, produzido e dirigido porWin Wender marca o gênero drama fantástico e apresenta dois mundos. O mundo dos homens e o mundo dos anjos. Entre tantas visões possíveis do filme, faço aqui o recorte a respeito das vantagens e desvantagens da condição de anjo e da condição de homem.

Os anjos, apresentados no filme, entre eles Damiel e Cassiel, discutem e saboreiam as regalias dos anjos. Podem voar: ponto peso 2! Quem não gostaria de ter esta regalia? Um outro ponto peso 2 é que os anjos não sentem dor, não sentem frio, não sofrem... Olham tudo de cima... podem sair facilmente de situações desagradáveis... Observam os seres humanos preocupados e cheios de tarefas... os anjos sabem o que rola nas casas... Como se fosse um grande e ininterrúpto Big Brother!

O mundo dos homens, por outro lado, é marcado pela perda e pela dor numa Alemanha pós guerra. Os homens sentem frio, sentem inveja, choram suas perdas e não conseguem ficar invisíveis nas situações difíceis ou voar para outros territórios mais agradáveis.

Qual a vantagem do mundo humano? 

Então, numa linguagem poética, numa brincadeira de luzes, sombras e cores, Wim Winders inverte a posição do jogo. O anjo Damiel, apaixona-se pela trapezista Marion e, para ficar ao lado dela, para viver esta paixão, é preciso que Damiel abdique da condição de anjo para viver as ‘dores e delícias de uma paixão’. Ou seja, para realizar o seu desejo, é preciso que ele deixe a asas da imortalidade, do ser intocável, sem máculas, sem defeitos, sem obrigações e dores da vida de anjo!

Esta discução parece muito poética e distante. Um mundo da fantasia... do faz de conta... Porém, como psicanalista, penso que esta discussão nós a vivemos no dia-a-dia! É impressionante o número de anjos que aparecem nos consultórios:”não quero sofrer”, “não é o momento de me envolver”, “quero só curtir e deixar rolar”, “vejo o orkut ou o facebook dele(a) todo dia e ele(a) nem desconfia!”

Por que não se entregar às paixões?

Porque existe a frustração. E a frustração machuca o aparelho psíquico. Ele se dilacera quando investimos em algo e este algo não corresponde. As perdas, dores e sofrimentos que Win Wender apresenta em seu filme faz todo mundo desejar ser anjo.

O trabalho da análise, muitas vezes, é o de suturar as feridas da frustração. É como uma perna quebrada, um estômago com úlcera, etc. Existe uma ferida de fato, mesmo que psíquica, em que a pessoa não consegue investir nas outras relações porque dói muito. Está ferida. O trabalho de análise, num primeiro momento, é o de tratar a ferida, para que, paradoxalmente, o ser abandone a posição de anjo e crie asas para ir em direção a seus desejos!

Diretor: Wim Wenders
Ele
nco: Bruno Ganz, Solveig Dommartin, Peter Falk

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