segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Abraços Partidos


Por: Fabiana Ratti 


Abraços Partidos é um filme do espanhol Pedro Almodóvar, que, traz às telas uma discussão muito importante: a questão das escolhas que são feitas ao longo da vida e as sérias consequencias que elas podem ter a curto e a longo prazo. O filme conduz e instiga o expectador ao maniqueísmo: os bons e o maus, as vítimas e os vilões; instiga a pensar em fatalidade e a culpabilizar os terceiros, mas, se formos refazer o trajeto, como o filme propõe,  a responsabilidade de cada vida é de cada sujeito. 

O filme começa com Mateo Blanco (Lluís Homar), cego, relembrando uma paixão já distante de sua vida, Lena (Penelope Cruz), aspirante a atriz, que na época era casada com Ernesto Martel (José Luis Gómez), um senhor alguns anos mais velho, orgulhoso e determinado, que não media esforços em suas conquistas, mesmo que precisando utilizar o dinheiro, o poder e a violência para alcançar seus objetivos. Lena o conhecia pois já havia trabalhado com ele anos antes. Sabia o caráter de seu marido e aproveitou as mordomias que o senhor lhe proporcionara. Certo dia, Lena, entediada com sua vida familiar, decidiu voltar-se para o sonho de ser atriz. Faz um teste e é rapidamente aprovada para trabalhar com o diretor Mateo Blanco, que está filmando sua primeira comédia Garotas e Malas. Logo nos primeiros momentos, Lena e Mateo envolvem-se em um romance.

É preciso mais ou é o bastante para uma tragédia?

Lógico que, com as cores de Almodóvar, temos a sensação de que não havia outra saída. Precisava Lena casar-se com Martel? Almodóvar aponta a direção que só havia esta saída... mas, se todas as pessoas que tiverem um ente familiar doente ou passarem por dificuldades financeira precisarem vender o corpo, a sociedade inteira seria um grande bordel! Existem outras saídas que a sociedade aponta, mesmo sendo, muitas vezes, difíceis e penosas. Lena faz sua escolha. Uma escolha que tem conseqüências futuras, pois, pensava ela que estava se casando com um gentleman? Um homem democrático que incluiria e respeitaria os seus direitos? No momento inicial ela gostou do acordo, e, era ciente da sordidez do proposto. Mateo também conhecia o respectivo marido, sabia do que Martel era capaz e mesmo assim ficou cego (antes de ficar cego biologicamente). Ficou cego e arriscou seu filme, seu nome, sua vida. Por um impulso, por prazeres sensoriais imediatos, Mateo arriscou sua integridade física e seus projetos de trabalho.  

Uma pena! Vidas em jogo. É assim o aparelho psíquico. Ele (o parelho psíquico) fica ‘desesperado’ para se satisfazer. O aparelho psíquico gosta de satisfação imediata e é atemporal, não inclui o futuro, não quer saber o que irá acontecer, ‘perde a cabeça’... Pessoas inteligentes parecem ficar ‘burras’, desnorteadas, cegas. É a força do inconsciente que tenta obter satisfação a qualquer custo e fica desgovernado. Quando o aparelho psíquico tem mais ‘musculatura’, está mais ‘forte’, ele consegue raciocinar, dirigir a situação, ter idéias para que a satisfação seja adquirida, mesmo que a posteriori, mas que seja mais duradoura e com custo menor, tanto para a vida como para os projetos.  

O filme narra a história de um curto circuito pulsional em que as escolhas e as atitudes dos sujeitos nortearam os caminhos e as diretrizes ao longo da estrada. É como mostram as estatísticas de trânsito, existe uma porcentagem muito grande de ‘acidentes’ que dizem que não são acidentes de fato, poderiam ser evitados! É o triste caso da tragédia em Abraços Partidos, uma seqüência de fatos e escolhas que vão afunilando a estrada e realmente levando a um caminho sem escolha, sem volta... como muitas e muitas que vemos ao redor.

Lançamento: 2009 (Espanha)
Direção: Pedro Almodóvar
Atores: Penélope Cruz, Lluís Homar, Blanca Portillo, José Luis Gómez.
Duração: 128 min
Gênero: Drama

Nenhum comentário:

Postar um comentário