segunda-feira, 18 de julho de 2011

Gainsbourg – O homem que amava as mulheres


Por Laís Olivato

A primeira produção cinematográfica de Joann Sfar, um famoso escritor de quadrinhos francês, é pouco ousada em sua própria proposta de fazer um filme quase surrealista. A cinebiografia de  Lucien Ginsburg, Serge Gainsbourg (interpretado excelentemente por Eric Elmosnino) deixou a desejar. O recurso dos personagens em quadrinhos utilizados ao longo de toda a trama são, de fato, o único diferencial do filme. As animações foram capazes de deixar a narrativa fragmentada e dispersa, mais rica, viva e interessante ao produzir cenas de fantasia incríveis.
A infância de Lucien Ginsburg (seu nome de batismo) foi passada durante a ocupação da França pelos nazistas. Seus pais, russos já haviam fugido de Moscou em 1917 durante a revolução socialista. Contudo, as fantasias criadas pelo protagonista o defenderam da violência do período. Mais tarde, já na idade adulta, o músico foi convidado a fazer uma apresentação para crianças cujos pais não haviam voltado dos campos de concentração.  Ginsburg faz uma apresentação divertida, levando estas crianças a também escapar desta triste realidade, utilizando a imaginação e o lúdico.
A dificuldade em lidar com frustrações e enfrentar os traumas de seu próprio tempo, agravados por ser russo e judeu na primeira metade do século XX, imperam em sua biografia. Pouco compreensivo e imediatista, o músico se entrega à boêmia, ao cigarro, ao álcool e às mulheres mais bonitas de sua época.
É do romance com Brigitte Bardot ( Laetitia Casta) que surge a canção Je t´aime... moi non plus que foi gravada com sua esposa Jane Birkin ( Lucy Gordon que se suicidou antes de terminarem as gravações do filme). As outras canções de Gainsbourg, contudo, parecem descontextualizadas na trama. A regravação da Marseillaise, Aux arms.. etc, na Jamaica, em tons de reggae, surge como um dado desconexo no filme. Neste possível retiro do artista, as ideias parecem desconexas, talvez por aludirem às perturbações emocionais do próprio protagonista.
Nos créditos finais, o cineasta deixa a seguinte mensagem “Amo demais Serge Gainsbourg para trazê-lo à realidade. Não são suas verdades que me interessam, mas sim suas mentiras”. Uma pena que ele tenha conseguido trazer à tona apenas suas “mentirinhas”.

Gainsbourg — Vie héroique
Diretor: Joann Sfar
Elenco: Eric Elmosnino, Lucy Gordon, Laetitia Casta
País de Produção: França (2010) 

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