sexta-feira, 15 de julho de 2011

Camille Claudel e A história de Adéle H.



  Por: Fabiana Ratti


Isabelle Adjani interpretou, de forma muito sensível, no cinema francês, duas personalidades femininas marcantes e atravessadas pela questão da psicose. Uma vez foi n’A História de Adèle H.de 1975, dirigido por François Truffaut, a outra foi em Camille Claudel de 1988 dirigido por Bruno Nuytten. Ambos os filmes na posição de protagonista e com o papel que leva nome ao filme. Outro fator em comum é que Camille Claudel e Adele H são contemporâneas de meados do século XIX e são francesas. De formas diferentes, porém ambas com seus talentos soterrados, com suas paixões impossibilitadas e, avassaladas pela angústia delirante, perseguições e ataques ferozes de não terem acesso a seus desejos, como conseqüência, a sociedade não compreende aquela situação levando-as à tristeza e à solidão de suas clausuras.

O confinamento era a saída possível que o século XIX encontrou para ‘solucionar’ a questão dos loucos de sua época. A história da loucura é extensa. Desde que existe o homem, existe a loucura. Em cada época e em cada cultura existe um status, uma posição diferente a qual o louco pertence e como a sociedade lida com eles. Na cultura indígena, por exemplo, muitas vezes, eles são os xamãs, os visionários, que prevêem o futuro e dão um direcionamento para onde a comunidade deve ir. Esta posição de status estabiliza o sintoma da psicose e inclui o sujeito da forma como é, com suas qualidades e dificuldades. Na época da inquisição, por exemplo, as loucas eram consideradas feiticeiras que quebravam as leis rígidas vigentes, fazendo com que fossem queimadas em praças públicas para toda a sociedade aprender como não deveriam se comportar. Este último exemplo já aponta uma sociedade ditatorial que exclui as diferenças e, desta forma, exclui as particularidades de cada sujeito.

Hoje, no século XXI, batalhamos por uma sociedade democrática. Se, Camille Claudel e Adele H. tivessem nascido em nosso século, elas teriam podido, cada uma a seu estilo, exercitar seus talentos. Poderiam trabalhar, ter seus nomes reconhecidos. Poderiam, talvez, terem lutado, de outra forma por seus amores, ou, até talvez, encontrar novos amores, fazer novas relações, possíveis para o século XXI.

Porém, na questão da psicose, ainda são necessários muitos avanços para realmente termos uma sociedade democrática, com a inclusão das diferenças e tratamentos digno à saúde mental. Já conseguimos, através de movimentos fortes e lutas acirradas, sair da ‘solução’ de trancafiar os loucos em sanatórios onde os cuidados eram péssimos, os tratamentos quase nulos e a possibilidade de recuperação inexistia.

Mas, o que foi criado no lugar? Qual a assistência possível? O que o SUS e os CAPS vêem fazendo por seus pacientes psiquiátricos? Esta é ainda uma grande tarefa para este século que vem começando e tem como lema a democracia. A saúde mental não pode ficar fora!

Desta forma, as cenas finais de Camille Claudel e Adele H. partem o coração, cada uma a sua maneira, não apenas por essas personalidades terem tido suas vidas amputadas bem antes de uma morte biológica, mas por inúmeras; incontáveis pessoas que deixam suas vidas, ainda muito jovens, ‘afundadas’ em uma doença que tem ampla possibilidade de tratamento, principalmente se diagnosticada rapidamente.

Título original: (L'Histoire d'Adèle H.)
Lançamento: 1975 (França)
Direção: François Truffaut
Duração: 97 min
Gênero: Drama

Título Original:  Camille Claudel
País de Origem:  França
Gênero:  Drama
Tempo de Duração: 166 minutos
Ano de Lançamento:  1988

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