quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Babel e 360



Por: Fabiana Ratti, psicanalista

Babel, filme de 2006, do diretor Alejandro González Iñárritu, é uma montagem de quatro histórias que acontecem paralelas e simultâneas. O tempo vai e volta na narrativa num curto período, os espaços físicos são diferentes e apontam um mundo globalizado onde as culturas se comunicam.

Existem alguns filmes dessa natureza que nos fazem pensar o quanto um ato no Marrocos pode afetar alguém no México, ou no Japão, ou nos EUA. Ou seja, estamos, de alguma forma entrelaçados e os atos têm efeitos e repercussões que vão para além do alcance de nossos olhos.

Um outro filme recente dessa natureza é o 360, de 2012, do premiado diretor brasileiro Fernando Meirelles. 360 roda o mundo com algumas histórias sobre a vida do ser humano comum e aponta as conseqüências que um ato pode vir a ter.

Assisti aos dois filmes num espaço muito curto de tempo, e o que me saltou aos olhos em relação aos dois foi o quanto eles mostram a irresponsabilidade e a displicência com que os seres humanos agem. Isso aponta a máxima de Freud, quando este diz que os seres humanos são dominados pelo aparelho emocional e não pelo racional. O inconsciente se impõe, e o indivíduo pode abrir mão, em um ato, de sua integridade física e/ou psíquica.

Em Babel, podemos dizer que a ligação entre as histórias se dá por uma arma. Até quando vamos deixar o comércio de armas correr tão solto? Então, na primeira história vemos um pai acirrar a competição entre os filhos e, sem uma orientação maior, irresponsavelmente, deixa-os com uma arma para irem cuidar das cabras. Logicamente, temos de pensar, qual seria a cultura e grau de instrução que aquele pai teria em pleno deserto do Marrocos? Não sabemos. Podemos entrar numa discussão mais sócio-política, mas, não o faremos aqui, aqui fica a discussão psíquica de que o pai agiu por impulso, não raciocinou os efeitos e conseqüências, provavelmente, a primeira vez que ele ganhou uma arma, também tenha sido dessa maneira. Assim, a irresponsabilidade vai sendo transmitida. Pode nunca ter acontecido nada de grave, mas um dia acontece. (como na tragédia que assolou Santa Maria, no RS, nessa semana, na boate Kiss matando mais de 230 pessoas). No filme aconteceu. Dessa maneira, continua o filme apontando uma seqüência de atos impensados, alguns que não levam a nada e outros que não saem tão ilesos, o que poderia causar sérios danos a todos em volta. O filme é interessante e nos deixa presos na ação, o que peca um pouco é a questão de que todos são incompetentes e dominados pelo inconsciente, menos os americanos, o que não é bem assim. Se relevarmos essa parte, o filme vale a pena! 

360 é mais romanceado. É menos intenso e portanto, ficamos menos aflitos ao assistir. Porém, mostra esse mesmo efeito. Uma seqüência de atos que, sendo impensados, pode destruir uma relação amorosa, pode fazer uma pessoa ter de mudar de país, de perspectiva de vida, pode fazer um pai ficar sem uma filha. Pode nada acontecer, mas Meirelles aponta o quanto podemos passar perto do perigo, sem o saber. Do meu ponto de vista de analista, se houver mais prudência e ‘preguiça de pensamento’, podemos não correr riscos tão altos, diminuindo os ‘acidentes’ e tragédias que acontecem na vida.

Fernando Meirelles também aponta, com categoria, que todo ser humano tem a capacidade de se esforçar e não cair na tentação. Ou seja, é possível um diálogo entre o racional e o emocional, não é preciso um dominar e se sobressair a ponto de perdermos a vida. Sendo assim, por que o ser humano se arrisca tanto?

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