segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O artista




Por: Fabiana Ratti, psicanalista

O artista, dirigido por Michel Hazanavicius, levou a estatueta do Oscar de melhor filme de 2012 e fomentou muitos comentários por ser um filme preto e branco, mudo e com um ritmo e movimentação típicos da era anterior ao mundo da informática.

Porém, a meu ver, conservou um ranço muito típico do século XXI. Conservou a característica das mulheres serem ´biônicas´, super mulheres. Peppy Miller (Bérénice Bejo) consegue um passo para o estrelato com um simples beijo roubado no tapete vermelho.  Ela dança, atua, tem visão de futuro, é bem humorada, agüenta pacificamente a má educação do mocinho, compra os pertences dele quando ele está com dificuldades, o salva da morte, etc, etc. Ou seja, A mulher. Uma mulher plena, assim como podemos ver em filmes como “O Diabo Veste Prada” ou no desenho “Valente”. Mudam os adereços, os artistas, a época a ser filmado, o país, mas continua lá o desespero do século XXI por mulheres plenas e totais.

O mocinho, George Valentin (Jean Dujardin) coitadinho, após os 20 primeiros minutos de glória no filme, pois ele era um ator de filme mudo de renomado sucesso, passa o restante do filme chorando, pois o estúdio passa a produzir filme falado e Valentin não acompanha a evolução cinematográfica.

Gosto do comentário que ouvi na época, no rádio, que levar o Oscar foi uma forma de Hollywood homenagear os europeus, e assim, politicamente ficar mais amistoso com os países do mercado comum, neste momento de crise que os EUA vêm passando. Bom, de toda forma, não é a primeira vez que me interrogo como um filme ganha a estatueta.

Podemos nos lembrar do clássico, “Cantando na Chuva”, que tem mais ou menos o mesmo enredo, um casal que tenta acompanhar os avanços do filme mudo para o cinema falado, ou mesmo, “Luzes da Cidade”, um filme mudo do genial Charles Chaplin, são excelentes filmes do século passado. Filmes que narram histórias de mulheres e homens humanos. A cena da florista em que o vagabundo tenta se passar por milionário diante da florista cega. Ou seja, personagens humanos. Cada um com as suas fraquezas. Quem não seria um pouco pobre ou um pouco cego? A cena é linda! Não por ser em preto e branco ou por ser mudo. O sofrimento do casal em Cantando na Chuva, também é muito genuíno, é difícil, muitas vezes, acompanhar o ritmo da tecnologia e da modernidade e, os seres humanos padecem com as dificuldades da vida.   

Porém, o filme “O Artista”, repete uma fórmula muito usada neste século em que as mulheres precisam ser plenas e totais. Não seria por essa razão que teríamos tantas mulheres solitárias? Mulheres lindas, ricas, inteligentes, famosas em suas áreas de atuação. Plenas. Quase que uma tentativa de não serem humanas... de não terem uma pobreza ou uma cegueira.

Peppy Miller batalha por George Valentin e diz: não sou plena. Algo me falta. O que me falta é este George. Isso é bacana. Nomear e batalhar por um amor é mostrar a ‘falta’ essencial da condição humana, não temos como fugir dela. Mas, a meu ver, existem outros melhores e mais belos filmes. Não vale duas horas e meia de nosso precioso tempo!

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