segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Um dia








Por:  Fabiana Ratti, psicanalista

Um dia é um drama, do diretor Lone Scherfig, que se passa de 1988 até 2011 enfatizando um dia, um único dia, 15 de julho, na vida dos personagens Emma (Anne Hathaway) e Dexter (Jim Sturgess). A princípio, parece mais uma comédia romântica. Confesso que ao longo do filme eu me irritei com aquela lenga-lenga... Mas com o tempo, fui vendo que era uma história bem real. Um homem e uma mulher que ficam juntos no dia da formatura e depois se tornam amigos. Os caminhos foram se alternando, as escolhas foram sendo feitas e eles passaram a ter o compromisso de se verem ou de se falarem, pelo menos no 15 de julho.

Um dos pontos que mais me veio à cabeça durante o filme foi a explicação de Lacan sobre o tempo lógico. Ele diz que o aparelho psíquico tem um instante de ver, um tempo de compreender e um momento de concluir. Ou seja, são fases do amadurecimento da visão. Às vezes, conseguimos olhar, mas não necessariamente ver. Para ver, é preciso um tempo de compreensão.

No primeiro momento do filme, tive aquela sensação ‘fiquem logo juntos’, o que está impedindo? Depois, com o tempo, ficou bem visível que não resolveria ‘ficar junto’, pois principalmente Dexter, um playboy inveterado, queria saborear tudo e todas, não havendo possibilidade de ver o amor que estava à sua frente. Se ficassem, Emma seria apenas mais uma, pois Dexter ainda não havia passado pelo momento de concluir.

Levou anos, muitas trombadas, amores e desilusões para a ‘ficha cair’, para ele ver o que estava à sua frente. E, o filme interroga: por que levar tanto tempo? Às vezes, pode ser tarde... o percurso poderia ser outro, feito de outra forma...

Por isso a análise é para todos. Não somente para os doentes mentais, ou para quem tem um sintoma muito grave. A análise pode servir como um acelerador do tempo lógico, um acelerador do instante de ver, do tempo de compreender e do momento de concluir, e como o filme discute, essa aceleração pode ser muito preciosa!

Além dessa discussão, o filme também caracteriza muito bem os personagens, as ruas e os hábitos conforme os anos iam se passando. Há uma cena bem interessante em que Emma diz: Eu nunca vou ter um celular, como sendo apenas para poucos. Um ou dois anos depois aparece ela, como todos nós, cada qual com seu celular falando sem parar... Ou seja, o filme vale a pena ser visto!

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