O segundo capítulo mostra a
questão na escola. Que ambiente hostil! Podemos pensar no dia a dia de
aprendizado neste ambiente de brigas, bullings
e contenção de adolescentes. A grande novidade que a série mostra em
relação a tantos outros filmes são os bullings
digitais. A linguagem de um grupo que quem não conhece os códigos não tem
acesso. O que pode parecer amizade ou até generosidade, somente aquele que está
inserido percebe as cargas de maldade e constrangimento.
O bulling digital não tem como a
pessoa correr e sair da situação, além disso, é visível por um enorme número de
pessoas, o que aumenta a gravidade e o efeito. Jamie, no dia do assassinato,
chegou às vias de fato. Mas, quando um de seus amigos sai correndo e o policial
vai atrás, um pouco antes de entrar no carro de polícia, o menino assume que a
faca é sua e diz: “Eu pensei que seria como todas as outras vezes.” Como? Todas
as outras vezes!!! Ou seja, as ameaças eram constantes... Provavelmente, para
diversos colegas, quanta hostilidade! Que sociedade é essa que estamos criando?
Em um país do primeiro mundo!
Se
recorremos a Freud, ele diz o quanto, na construção do narcisismo, existe o
sadismo como constitutivo do ser humano. Todo ser humano tem interesse em saber
até onde vai o limite do outro, até onde o outro aguenta. Freud explica que
isso acontece, principalmente no momento da retirada das fraldas, de 2 a 4 anos.
Quando a criança está começando a controlar os esfíncteres e muitos pais dizem
na análise que as crianças muito arteiras, deixam escapes pela casa, aprontam,
não obedecem. Testam os limites. Freud explica que essas fases emocionais são
flutuantes e podem permanecer em outros momentos de vida do ser humano.
Um outro
ponto que nos chama atenção na cena da escola é o pai policial conversando com
o filho. Ele diz que aquela conversa é a mais longa que teve com ele. Nem sabia
que o filho estudava francês! Que dificuldade é essa de ficar perto dos filhos?
Conflito de gerações?
Essa
dificuldade perpassa todas as gerações, mas agora temos o agravante do mundo
digital. Horas e horas que as crianças e adolescentes passam em jogos,
computadores e celulares. Por um lado, traz conforto para os pais que conseguem
trabalhar e fazer suas atividades, mas a série interroga: que dificuldade é
essa dos adultos ficarem mais com seus filhos? Conversar, fazer programas e
atividades em comum? Ver os filhos?
Por: Fabiana Ratti, psicanalista
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