sábado, 26 de abril de 2025

Série Adolescência – Na escola – O Sadismo



           A série Adolescência tem trazido bastante impacto para o divã.

O segundo capítulo mostra a questão na escola. Que ambiente hostil! Podemos pensar no dia a dia de aprendizado neste ambiente de brigas, bullings e contenção de adolescentes. A grande novidade que a série mostra em relação a tantos outros filmes são os bullings digitais. A linguagem de um grupo que quem não conhece os códigos não tem acesso. O que pode parecer amizade ou até generosidade, somente aquele que está inserido percebe as cargas de maldade e constrangimento.

O bulling digital não tem como a pessoa correr e sair da situação, além disso, é visível por um enorme número de pessoas, o que aumenta a gravidade e o efeito. Jamie, no dia do assassinato, chegou às vias de fato. Mas, quando um de seus amigos sai correndo e o policial vai atrás, um pouco antes de entrar no carro de polícia, o menino assume que a faca é sua e diz: “Eu pensei que seria como todas as outras vezes.” Como? Todas as outras vezes!!! Ou seja, as ameaças eram constantes... Provavelmente, para diversos colegas, quanta hostilidade! Que sociedade é essa que estamos criando? Em um país do primeiro mundo!

               Se recorremos a Freud, ele diz o quanto, na construção do narcisismo, existe o sadismo como constitutivo do ser humano. Todo ser humano tem interesse em saber até onde vai o limite do outro, até onde o outro aguenta. Freud explica que isso acontece, principalmente no momento da retirada das fraldas, de 2 a 4 anos. Quando a criança está começando a controlar os esfíncteres e muitos pais dizem na análise que as crianças muito arteiras, deixam escapes pela casa, aprontam, não obedecem. Testam os limites. Freud explica que essas fases emocionais são flutuantes e podem permanecer em outros momentos de vida do ser humano.

               Um outro ponto que nos chama atenção na cena da escola é o pai policial conversando com o filho. Ele diz que aquela conversa é a mais longa que teve com ele. Nem sabia que o filho estudava francês! Que dificuldade é essa de ficar perto dos filhos? Conflito de gerações?

               Essa dificuldade perpassa todas as gerações, mas agora temos o agravante do mundo digital. Horas e horas que as crianças e adolescentes passam em jogos, computadores e celulares. Por um lado, traz conforto para os pais que conseguem trabalhar e fazer suas atividades, mas a série interroga: que dificuldade é essa dos adultos ficarem mais com seus filhos? Conversar, fazer programas e atividades em comum? Ver os filhos?

 

Por: Fabiana Ratti, psicanalista

segunda-feira, 14 de abril de 2025

ADOLESCÊNCIA - SÉRIE - PSICANÁLISE



        Adolescência é uma minissérie Britânica (2025) que tem trazido grande alvoroço ao divã, angústias e mil interrogações. Foi criada por Jack Thorne e Stephen Grahan e muito bem dirigida por Philip Barantini. A primeira cena já é bem impactante. Policiais armados e fortemente protegidos, invadem a casa e quem eles procuram?  Jamie Miller (Owen Cooper) um estudante de 13 anos que é preso acusado de matar a colega de classe.

O primeiro ponto muito interessante da série é que são quatro capítulos em que não há cortes.  A câmera segue em ‘tempo real’ cada capítulo e temos a sensação de que estamos inseridos em cada situação. O que aumenta muito a emoção e a angústia de quem está ‘participando’.  Ideia genial que havia visto somente em um dos filmes de Hitchcock – A Corda - se passa em um apartamento em que houve um assassinato, provocando a mesma tensão e angústia nos expectadores/participantes do evento.

 O segundo ponto interessante da série e que se diferencia de todas as outras de assassinato é que os detetives não vão ao local do crime, não mostra a vítima, sua família e a investigação local. Sai do roteiro Hollywoodiano pré-estabelecido trazendo um novo recorte para o público, convocando ideias e questionamentos bem diferentes dos filmes tradicionais de investigação.  

O terceiro e fundamental ponto da série é que, mais do que de investigação, é um drama psicológico. De forma bastante atual, o crime é filmado. Temos câmeras por toda parte em nossa sociedade na era tecnológica. Tudo conseguimos filmar: aviões e helicópteros caindo, prédios pegando fogo ou desabando por terremoto, animais em momentos inéditos, carros fazendo conversões, crimes e assassinatos.

Então, vem a pergunta: qual o motivo do assassinato?

No primeiro capítulo fica evidente que Jamie é inteligente. Não tem traços visíveis de psiquiatria e responde muito bem ao que lhe é pedido, mesmo sendo em uma situação de stress como na delegacia.

Qual o motivo? O que faz um ser humano dessa idade cometer tal delito?

E, todos que começam a ver, já sabem que a série fala dos bullins e maus tratos, os cyberbullyings, as segregações, os grupos e rivalidades entre os jovens.

Vamos fazer aqui 4 posts. A série tem muito conteúdo, não é possível discutir apenas com uma postagem. No capítulo 2, quando o amigo de Jamie, dono da faca, foi preso pelo policial, ele disse uma frase muito sugestiva e absolutamente preocupante. Ele fala: Eu pensei que seria como todas as outras vezes.

Imaginem quantas vezes e quantas ameaças esses adolescentes já passaram!!!

O mais interessante da série é que ela coloca exatamente essa questão de que não precisa ser psicopata ou uma das piores pessoas do mundo. As pessoas que sofrem bulling e fazem bulling está entre nós. O ser humano tem uma dose forte de sadismo, de maldade, de rivalidade, medo e insegurança, que, muitas vezes, extrapolam para atos que colocam em risco a vida emocional e biológica do outro.

Quais os furos? Quais os pontos que precisamos cuidar para não chegar a isso? O que os pais poderiam ter visto ou poderiam ter feito para não terem chegado a consequência tão grave?

Escrevam... 
Vamos debater esta questão tão importante.


Por: Fabiana Ratti - psicanalista