segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Que Terá Acontecido a Baby Jane?





Por: Fabiana Ratti


O que terá acontecido a Baby Jane? De Robert Aldrich é um maravilhoso clássico de 1962 com Bette Davis (Jane Hudson) e Joan Crawford (Blanche). O filme, vibrante e intenso, trás alguns pontos interessantes a se pensar: Como é ter vivido, na infância, uma época de ouro? Como o aparelho psíquico digere a idéia de ter vivido num mundo de fama e glória, num palco iluminado por entre aplausos e arroubo dos fãs; e depois, passar a ser uma reles mortal, anônima e sem as gracinhas de uma menina de cabelos cacheados?

Dificuldade parecida mostra o filme brasileiro:Quem Matou Pixote?José Joffily narra a trajetória de Fernando Ramos da Silva,  ator principal do premiado filme Pixote, a Lei do Mais Fraco de Hector Babenco que em 1981 se consagrou no papel, mas que, após o filme, volta a viver sua vida na periferia carioca, no meio do crime, da violência e das drogas, falecendo em 1987.

O filme Baby Jane discute que, mesmo não estando numa realidade social tão cruel quanto esteve Fernando Ramos, o quão difícil é para o aparelho psiquico sobreviver a um ‘investimento narcísico’ tão intenso numa primeira fase da vida.

O narcisismo é uma energia psiquica fundamental e central para a formação do aparelho psiquico, para o crescimento do sujeito e a construção da personalidade. Sem esta energia psiquica básica, não há como o sujeito se constituir. Porém, através destes filmes, e de alguns relatos da mídia em relação a pessoas que ficam famosas na infância, e que têm sérias dificuldades no transcorrer da vida adulta, nos aponta o quanto a mesma energia que constitui o sujeito também pode cegá-lo e sufocá-lo a tal ponto que possa vir a destruir sua vida ou a de outros.

Lógico que devemos considerar todos os fatores sociais implicados em relação a Fernando Ramos. O quanto é importante dar um sustentáculo psiquico para o sujeito, não apenas frente às mazelas da vida, mas também frente ao sucesso. Nem sempre é fácil conviver com o sucesso, e, quando este termina, como o inconsciente consegue enfrentar?

Batte Davis e Joan Crawford estão impecáveis em seus papéis. Ambas numa fase em que já não eram mais mocinhas, retratam os horrores da decadência, da mesmice, da ranhetice da velhice e de como é possível ficar absorta entre reminicências de um passado glorioso e a mesmice de um passado não tão recente, porém inóspito, chato, bolorento, intragável. É assim o cotidiano das irmãs.

Porém, o filme vai mais longe. Até que ponto um ser humano pode ir? Até onde ele é capaz de pagar com sua própria carne por inveja? Por ciúme? Por rivalidade? O que ele ganha com isso?

O ser humano paga caro por seus desejos. O investimento em projetos, sonhos e desejos não é barato. Requer esforço, raciocínio, articulações, trabalho. Baby Jane marca também que não lutar por seus sonhos, não batalhar, não investir... também é caro! E muito! 


Direção: Robert Aldrich
Roteiro:Henry Farrell (romance), Lukas Heller (roteiro)
Gênero: Comédia/ Drama /Romance /Terror
Origem: Estados Unidos
Duração: 134 minutos
 


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