quarta-feira, 29 de junho de 2011

Minhas tardes com Margueritte



                                                                                                        Por  Laís Olivato

O filme dirigido por Jean Becker trata do encontro de Germain (Gérard Depardieu) e de Margueritte, com dois t´s (Gisèle Casadesus), num banco de uma praça. A partir deste cenário, o diretor e roteiristas nos leva a mergulhar numa série de narrativas literárias, que, mais do que solidificar esta amizade, é responsável por um novo entendimento que Germain terá do mundo a partir da importância que irá atribuir à memória e à história em sua vida.
Germain era filho de mãe solteira e, quando criança, era, frequentemente, zombado pelo professor e pelos colegas de sala por ter dificuldades no aprendizado. Este caso é bem comum entre os alunos cujas famílias não estão presentes ao longo do processo de alfabetização no qual o incentivo até mesmo afetivo se faz necessário para um bom resultado.
O fato de o personagem insistir em “pixar” seu nome num memorial aos heróis franceses da 2ª Guerra Mundial que se localizava em frente à escola é um recurso que nos revela seu medo de ser esquecido pela instituição que ao invés de lhe abrir horizontes, apenas limitou sua vida.
No encontro com Margueritte, Germain demonstrou uma capacidade mnemônica (comum em analfabetos ou semi-analfabetos) impressionante ao contar e nomear todas as pombas da praça. Talvez, este fato tenha sido motivador para que a senhora de 95 anos passasse a lhe ler livros literários consagrados pela literatura francesa de sua época.
Juntos, estes dois personagens mergulham no mundo das letras e da imaginação com uma capacidade inventiva associada apenas ao cotidiano. Este ponto é fundamental para entendermos esta amizade. Presos no tempo presente, ambos desejam se aventurar na literatura utilizando apenas os recursos da vivência que dispõe. Assim, quando presenteado de um dicionário, Germain fica indignado ao saber que as espécies de tomates que dispunha em seu quintal, não estão presentes no manual. É frustrante saber, novamente, que suas experiências não são documentadas.
O clímax do filme é a morte da mãe de Germain, representada por Claire Maurier. Por ter, frequentemente, demonstrado um descaso maternal em relação ao filho, o protagonista não esperava receber nenhuma herança. Contudo, a mãe lhe havia comprado uma casa e guardado a primeira veste do filho utilizada na maternidade e, até mesmo, seu cordão umbilical.
A documentação de sua própria história dá um novo valor à vida de Germain. Ele aceita ter um filho com sua namorada Anette (Sophie Guillemin) e reforça seus laços de amizade com Margueritte e suas histórias no mundo em que vive.

La Tête en Friche 
França , 2010 - 82 minutos 
Direção:
Jean Becker
Roteiro:
Jean Becker, Jean-Loup Dabadie, Marie-Sabine Roger
Elenco:
Gérard Depardieu, Gisèle Casadesus, Maurane, Patrick Bouchitey

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