quarta-feira, 3 de novembro de 2021

O Gambito da Rainha e a psicanálise de Freud a Lacan: sintoma ou sinthoma?

 

 


O Gambito da Rainha foi uma das séries mais assistidas do ano de 2020!

Baseada no romance de Waltes Teves de 1983, se passa na década de 1950 e 1960 e permite várias idades assistirem. Foi possível ver em família o que ajudou muito a ultrapassar algumas horas de pandemia a qual estávamos confinados. Os personagens trabalham muito bem, em especial a protagonista Anya Taylor-Joy, como Beth.

Entre tantas críticas interessantes, o ponto que posso ressaltar aqui é que existe um potencial psicológico na série que permite ‘comprovar o estudo de Freud’ e ao mesmo tempo enfatizar os estudos posteriores à década de 1970 de Lacan.

A série começa com um drama psicológico entre mãe alcóolatra, possessiva e descompensada. Um pai que não conseguiu barrar os impulsos da mãe, e então a tragédia se deu. Beth ficou órfã e foi para um orfanato. Nesse local, com um embotamento afetivo e compensatoriamente muita inteligência, Beth dedica-se a jogar xadrez com o zelador. Vai evoluindo, se destacando, vai a clubes, começa a ser conhecida. Então, Beth é adotada e sua vida muda. A mãe adotiva, com o tempo, passa a investir em sua carreira, percebendo os ganhos que teria com isso.

O primeiro ponto do nosso debate é que se trata de uma questão bastante freudiana. Um romance familiar bem fraturado, uma infância com inseguranças e medos, a falta de afeto e suporte, gera uma criança e adolescente pouco afetiva e muito racional. Além disso, Beth, desde menina, no orfanato, percebeu que remédios e álcool poderiam levar a uma entorpecência que a livrava da ‘realidade’ e dava uma segurança a mais que não tinha de ‘cara limpa’, dessa maneira entra no mundo dos vícios.

Então a série segue com originalidade num meio que é bastante masculino e Beth vai ganhando


credibilidade e apoio, cavando seu espaço dando exemplo e mostrando a que veio!

Sem entrar em detalhes e tentando não revelar mais do que deveria da obra, num determinado momento há uma bifurcação, como na vida da maioria dos seres humanos: o desejo ou o sintoma? E Beth é magistral em sua escolha! Apontando a direção da última clínica de Lacan. O Sintoma ou o Sinthome? O sintoma ou o desejo, o projeto, a realização da natureza e subjetividade humana?

A posição lacaniana muda de patamar, pois aposta sobretudo na escolha e decisão do sujeito, no ponto de vista como o sujeito pensa e conta sua história, indo para além da vitimização e situação sem saída dependendo de seu nascimento.

 Beth sucumbiu ao gozo do desejo, ao usufruto de sua natureza enxadrista! Um exemplo a todos nós!

Fabiana Ratti, psicanalista lacaniana

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