terça-feira, 8 de setembro de 2020

Paixão

 


O que seria o estado de paixão que muitos falam? Somente no começo de namoro é possível estar apaixonado? Somente para adolescentes?

Como psicanalista penso que há uma confusão entre o que Lacan chama de estado de Real e a Paixão. O Real para a psicanálise é diferente da realidade. O real é aquilo que não tem nome e nem nunca terá. É o que não sabemos nomear. O que não sabemos explicar. Um susto, um impacto, uma surpresa. Quando o efeito de real passa e compreendemos aquela situação, ela se torna da ordem do simbólico. Dessa forma, no começo de um relacionamento, temos um espaço em aberto. Não sabemos o que vai acontecer, como a pessoa funciona, o que ela quer conosco... Então recobrimos com o imaginário, com castelos e sonhos. Ou seja, no meio de muitos sentimentos, envolto a novas interrogações, adicionamos o componente biológico da adrenalina e outros efeitos corporais. Essa soma, as pessoas chamam de paixão.

Por outro lado, muitos veem aqui ao analista e com 20, 30 anos de casado, são capazes de falar que são apaixonados por seus cônjuges. Como explicamos isso? Eles sentem uma tremedeira? A mão esfria toda vez que encontra o parceiro? O coração vem na boca?

Outros ainda fazem uma comparação da paixão com o sofrer, com o ficar arrasado, na fossa. Aí já podemos ir por caminhos do masoquismo, de neuroses e doenças psíquicas que as pessoas não tratam e frente a relacionamentos, elas ficam afloradas. Isso podemos ver direto, especialmente em filmes cults europeus, há muita confusão entre paixão e sanidade mental.  

Como psicanalista, pela prática clínica, penso que é possível manter a paixão depois de anos de casado sem precisar manter uma ambulância na porta. Para estar apaixonado, o coração não precisa disparar o tempo todo e nem dilacerar o peito, isso é um efeito de real da novidade e do inusitado da vida, que tem um tempo lógico para terminar, sair do real e ser abstraído pelo simbólico.

Do que vejo, a verdadeira paixão é atemporal...  a paixão é um colorido diferente, um brilho nos olhos, uma vontade de estar junto, uma felicidade em estar perto. É um colorido especial que muda tudo e transforma tudo. É uma sensação que faz toda a diferença estar ou não na presença da pessoa.  Não tem idade para acontecer e nem tempo para terminar!

Do meu ponto de vista, façam mais análise e fiquem mais apaixonados pela vida e por seus amores... Concordam? Discordam? Escrevam...  

Por: Fabiana Ratti, psicanalista 

Foto: Manet. 

Amor
Quando duas pessoas fazem amor
Não estão apenas fazendo amor
Estão dando corda ao relógio do mundo

Mario Quintana


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