quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Uma Beleza Fantástica




Mais um belo filme sobre amizade na Netflix. Uma Beleza Fantástica (2016) é um drama romântico britânico, escrito e dirigido por Simon About, onde podemos ver excelentes interpretações e visualizar o quanto uma grande amizade pode fazer uma diferença profunda em nossas vidas!

Podemos dizer que o filme faz um belo paralelo entre cuidar de um jardim e cultivar as amizades. Jessica Findlay interpreta Bela Brown, uma moça tímida, solitária e inibida que tem sintomas obsessivos. Ela aluga uma casa e vai trabalhar na biblioteca. Faz tudo no horário contado, usa sempre o mesmo estilo de roupa e faz rituais obsessivos para sair de casa.

Bela parece não ter ligação com nada. Parece executar as tarefas por mera obrigação e sobrevivência. Mas sua vida toma outro rumo quando o advogado imobiliário chega à sua casa e diz que para que ela permaneça na casa, ela deve cuidar do jardim, está incluso no contrato de locação. Ela tem o prazo de um mês para restaurar seu jardim que está em péssimas condições. Bela fica desarvorada. Como conseguiria fazer aquela proeza? Como seria possível cuidar de algo que ela não tinha a menor afinidade?

Começa então a amizade dela com seu vizinho Alfie (Tom Wilkinson), excelente no papel de velho rabugento. Alfie, mesmo com seu temperamento ranzinza, consegue demonstrar grande sensibilidade e extrair o que havia de melhor em Bela. A parceria funciona maravilhosamente bem e ambos crescem com a amizade. Como analista, podemos dizer que ambos estavam embotados afetivamente, cada um, à sua maneira. Estavam sem conseguir investir energia psíquica no mundo. A missão de ensinar sobre jardinagem e por outro lado, a de aprender, fez a ligação entre dois seres que, aparentemente, não tinham nada em comum. O endereçamento ao outro, a troca de ideias e de estórias fez com que os dois despertassem para a vida. 

O filme tem também muita ironia e carisma com Vernon (Andrew Scott) e Billy (Jeremy Irvine), personagens que mostram que nas pessoas ‘esquisitas’ existem seres maravilhosos.


O filme mostra, com muita emoção, o quanto os sintomas são ‘aglomerados’ de inibições para chegar até o outro e fazer laço social... Quanto mais os personagens tinham amigos, amores e projetos pessoais, menos os sintomas apareciam... Bela chegou até a esquecer a porta aberta um dia, uma distração inconcebível a uma obsessiva! Do sintoma ao sinthome (do sintoma a projetos e realização de sonhos), via laço social... como diria Jacques Lacan...  

Fabiana Ratti, psicanalista 

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