quinta-feira, 21 de setembro de 2017

A Última Fronteira - The Last Face – (2016)




A Última Fronteira  - The Last Face – (2016) é um drama produzido nos Estados Unidos, dirigido por Sean Penn, escrito por Erin Dignam e protagonizado por Charlize TheronJavier Bardem. O filme discute a precária condição de vida e de subsistência que a África passa em situação de revolução civil e política. A narrativa perpassa a experiência do que aqui no Brasil é chamado de “Médico sem Fronteiras”, iniciativas de trabalho na área da saúde em parceria com a ONU para minimizar o sofrimento em acampamentos e cidades que sofrem ataques e estão em situação limite em todos os âmbitos da vida humana.   

Com cenas de violência e miséria, o filme abre espaço para muitas reflexões, pensaremos em algumas...

A primeira e grande pergunta que se estabelece no cerne do filme é: o que os profissionais de saúde estão fazendo ali? Qual a função deles? A pergunta se coloca pois são tantas bombas e tiros que a morte parece iminente para todos, o trabalho do médico apenas posterga a morte? É como “secar gelo”, um trabalho que parece não ter fim. Essa interrogação gera uma crise psicológica em Wren, a protagonista, e ela, na função de médica, deixa a mesa de cirurgia, montada de forma bastante precária, e começa a dar cuidados paliativos a uma senhora que perdeu as pernas, está para morrer e quer ver o filho.

A segunda grande questão é: numa situação limite, o que deve prevalecer, a saúde mental ou a psíquica? Wren tem um ataque após passar por uma sequência de situações traumáticas: é obrigada a sair do carro porque ladrões roubam o veículo, a equipe é obrigada a fazer a travessia a pé e passar a noite no meio da floresta, é necessário fazer uma Cesária de urgência no caminho e, entre outras situações, Wren vê uma pilha de crianças mortas após enfrentar um menino apontando a metralhadora para a equipe.


Frente a tanta violência, Wren explode em uma cena e fica evidente que para estar nessa situação é preciso incluir a saúde psíquica. Além disso, o filme interroga, será que essa população precisa “apenas” de alimento, cuidados básicos, saneamento, atendimento médico ou precisa também de sonho? Como é passar uma vida crua, apenas sobrevivendo, sem a condição maior que diferencia o ser humano dos outros animais?

Neste mesmo viés, o filme enfatiza que para o profissional de saúde estar ali é porque ele é idealista, precisa ter essa vida como seu sonho, pois a privacidade dele é engolfada pelo trabalho, além de, não ser um trabalho, digamos, simples. Como casar e ter filhos tendo uma vida aventureira como essa? Como ter a mínima privacidade de um romance? Miguel, o protagonista, é tachado de mulherengo por ter tido alguns relacionamentos em missão. Como não tê-los? Deveria ele abrir mão total de sua vida afetiva e sexual?

Junto com todos esses perigos iminentes, o filme ainda levanta o risco com o HIV. O sangue toma conta do cenário, corpos abertos e expostos, cirurgias feitas sem luvas ou proteções, bolsas de sangue contaminadas, sexualidade sem proteção.  

Sean Penn acerta no tom e na discussão. Um filme que envolve questões sérias da realidade, violência e muito afeto. 

Por: Fabiana Ratti, psicanalista 

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