quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O Curioso Caso de Benjamim Button e a Saga Crepúsculo

Por: Fabiana Ratti, psicanalista 

Freud tem um texto chamado O Estranho, é o que mais se aproxima do Curioso Caso de Benjamin Button (2008), drama americano, inspirado num conto de F. Scott Fitzgerald. O filme, dirigido por David Fincher e muito bem interpretado por Brad Pitt, se passa em 1918, em Nova Orleans. Benjamin Button nasce com a aparência envelhecida e seu pai, pensando se tratar de um monstro, o abandona. Benjamin é criado num lar de idosos e, incrivelmente, com o tempo, vai rejuvenescendo até que no fim da vida, tornar-se um bebê.

Estranho. Muito estranho. Freud, no texto, através de um conto de Hoffmann, diz que aquilo que é mais estranho, o que causa mais repulsa e horror, muitas vezes, é o que é mais familiar, mais próximo. Ou seja, a velhice, a esquisitice, a doença, a morte, são horrores da natureza humana que estão sim muito próximos ao ser humano. O bebê Benjamim nos lembra, o tempo todo, o que Freud nomeou de ‘horror da castração’. Tudo o que inversamente, na teoria, um bebê deveria representar, pois ele representa a vida, o nascimento, a juventude, a saúde. Mas nem sempre é assim. Na prática, sabemos que se estamos vivos, os percalços acontecem, haja vista as maternidades e UTIs neo-natal. Benjamin Button causa horror. As pessoas o repelem. É difícil a convivência, o contato. Benjamin causa realmente uma estranheza particular, mas, o que Freud argumenta é que poderia ser qualquer doença. A grande questão é que o ser humano tem horror ao fato de ser mortal, de ser imperfeito. Tudo o que lembra a imortalidade é familiar pois é a condição sine qua non para ser um ser humano, porém, causa horror.

Podemos, em contraposição, discutir, por exemplo, a Saga Crepúsculo (2008) escrita por Stephenie Meyer e dirigida por Catherine Hardwicke. Na Saga, Isabella Swan (Kristen Stewart) é uma garota que se apaixona por Edward Cullen (Robert Pattison), um vampiro. É uma história bem adolescente, num mundo em que se misturam os humanos, os vampiros e os lobisomens. A grande luta é encontrar um ponto de imortalidade, de fragilidade entre os lobisomens e os vampiros e salvar a heroína, até então humana e mortal, Bella Swan.
Mesmo com pontos estranhos e surreais, o filme ganha uma legião de fãs e garotas enlouquecidas, entre tantas razões, uma delas é o brinde à imortalidade, à juventude e à perfeição. A começar pelo mocinho, Edward que fisicamente tem o estereotipo de beleza masculina. Tem mais de cem anos, ou seja, experiência, cultura, sabedoria, mas ficou imortalizado na juventude e na beleza dos 17 anos! É rico, é forte, pressente quando a jovem está em perigo, não tem as necessidades mundanas como comer ou dormir (pode ler ou apenas acompanhar a amada nesse momento) é um vampiro do bem, tem uma família também jovem, que será para sempre jovem, e... voa!

Entre outros requintes de detalhes que não vamos nos debruçar, Crepúsculo brinca com a imortalidade, traz aventuras e fantasias adolescentes que deixam os personagens entre a vida e a morte, mas garante no final: o “horror à castração” é história da carochinha! A perfeição e a juventude eterna existem, pelo menos para o casal central que é o foco de identificação do público.

Lógico que filmes com a profundidade e densidade de O Curioso Caso de Benjamin Button são mais esféricos e verdadeiramente humanos ao colocar o público frente a sérias questões como o horror frente à doença, à morte, à rejeição. O quanto o ser humano é capaz de rejeitar a si próprio como fez Benjamin se excluindo da relação com a esposa e o quanto, nos relacionamentos é preciso estar preparado para acompanhar as mudanças dos cônjuges, quaisquer que elas sejam, ao longo da vida.

Mas também, não precisamos descartar que o ser humano precisa de um pouco de ópio. É preciso um pouco de ópio para esquecer as dores. É necessário algum momento para se embriagar na ilusão de perfeição, completude, harmonia e reciprocidade. Se este ópio vem de filmes e livros, mesmo que sejam simples e fáceis, como diz Baudelaire: “Embriagai-vos”. Melhor do que as drogas, não é mesmo?!

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