quinta-feira, 14 de junho de 2012

O Garoto da Bicicleta

 

Por: Fabiana Ratti, psicanalista

 

O Garoto da bicicleta (2011) é mais um filme interessante dos irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne. Mais uma vez eles discutem a rejeição, sobretudo a rejeição do pai pelo filho. Em A Criança, filme de 2005, Jérémie Rénier é um jovem delinqüente de 20 anos e um pai que vende seu filho recém nascido. Ao se deparar com a mãe inconformada, dá imediatamente a solução: “Não se preocupe, fazemos outro.”

 

Em O Garoto da bicicleta, Jérémie Rénier, ator belga, sempre em excelente atuação, deixa seu filho Cyril (Thomas Doret), de 12 anos em um orfanato. O filme mostra, com muito humanismo, o sofrimento de uma criança rejeitada, as dificuldades em uma instituição e as novas possibilidades de amor e de relacionamento em um lar e nas ruas.

 

Samantha (Cécile de France) conhece Cyril de uma forma inusitada e começa a se aproximar do garoto, abrindo espaço para uma nova vida, para ele e para ela.

 

A rejeição é um ponto frequentemente trazido às sessões de análise. Todo ser humano, de uma forma ou de outra, já se sentiu rejeitado. Desde situações trágicas, como a apontada no filme, como em situações de bulling com os colegas, ou por questões sócio-econômicas e culturais. Existe a rejeição freqüente, de todos os dias e existe a rejeição esporádica. Também existe a sensação de rejeição, quem nunca se sentiu como Álvaro de Campos diz em A Tabacaria?  

 

Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,

 

Logicamente, vivendo em sociedade, sabemos que nem sempre somos aceitos, que nem sempre nos convidam ou nos querem na brincadeira. Porém, mesmo racionalmente cientes desta questão, para o inconsciente, para o aparelho emocional, a rejeição é de uma violência fervorosa. Ainda mais a rejeição de um pai por um filho, ainda mais uma rejeição tão violenta vivida na infância. É preciso muita força psíquica para sobreviver e fazer valer a vida após uma rejeição dessas.

 

Um filme maravilhoso com excelentes atores e direção exemplar. Cyril consegue transmitir a negação da rejeição, depois o horror de ter de se deparar com o fato. Então, passa pela sensação de que nada vale, pois o pior ele já passou... Cyril fica na dúvida de qual caminho seguir em sua vida, mas é tocado pelo forte posicionamento de Samantha... É preciso muita sensibilidade e talento para falar de tamanho horror. E o filme consegue! 

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