Laços (2019) é um filme
brasileiro de aventura produzido pela Maurício de Souza Produções, com a turma
da Mônica protagonizando o elenco: Mônica, Magali, Cascão e Cebolinha, a
revistinha foi para as telas e o filme é muito legal! Agrada a adultos e
crianças. O roteiro é bem construído e gira em torno do sumiço de floquinho. A
turma sai à procura do querido cão de Cebolinha numa grande aventura mesclando
humor, desafio, perigo, frio na barriga, inclusão das diferenças e sobretudo,
companheirismo.
A começar pelo título, é bem
atual e sugestivo. Laços afetivos é um dos temas top 10 de saúde mental do
século XXI. Num mundo em que tudo é “trach”, descartável e jogado fora,
Maurício de Souza consegue formar uma turma amiga, solidária, generosa
incluindo as dificuldades individuais. Nenhum deles foi o melhor ou o campeão,
mas todos suplantaram suas dificuldades singulares e utilizaram-se de seu
potencial pelo bem comum de encontrar o cão e participar da aventura.
No Seminário 17 (1968-1969),
Lacan discute os discursos que fazem laços e possibilitam as relações afetivas;
os estudos, os amores, as relações em que ao se endereçar ao outro possibilitam
construção e engajamento. Mais tarde em sua obra, questiona a forma como a
sociedade vem se construindo com o consumismo e relações capitalistas que
descartam as pessoas e as tratam como lixos descartáveis.
Turma assim de Laços não é
tão fácil de encontrar! Muitas vezes, a pessoa, egoicamente, quer a honra
somente para ela e não sabe trabalhar em equipe, não consegue dividir as
qualidades ou elogiar os colegas a sua volta. Outras vezes, as dificuldades são
ridicularizadas e zombadas pelos amigos. Ali não. Cada qual tinha sua qualidade
e seu defeito, compartilhado e respeitado. Além da aventura, as crianças
dialogavam, faziam estratégias, dividiam as incertezas.
Um dos pontos que na minha
infância me fazia não ler as Revistas da Mônica era o grau de briga que
existia. Para tudo eles brigavam, um provocava o outro e ainda terminava com as
‘coelhadas’ de Mônica sobre o Cebolinha, como se fosse glorioso. Isso,
realmente, nunca gostei.
Uma coisa é conversar, discutir,
discordar. Outra coisa é ficar atritando e partir para a força física. Se
existe uma campanha para os homens deixarem de baterem nas mulheres, como
aplaudir uma personagem que ganha pela força física machucando uma outra
pessoa? Não gostava muito de ler, mas entendo o sucesso da vingança atingir os
corações das leitoras contra o malvado vilão Cebolinha que ficava provocando a
mocinha.
Porém, no filme, Maurício de
Souza consegue apresentar um outro viés em que não é preciso, nem ficar no
atrito e nem partir para a força física, excelente solução! Vale a pena ser
visto, principalmente porque os personagens esbanjam afeto: amor e amizade
borbulham entre eles, coisa rara nos dias de hoje que parece ser “chique” não
gostar e não se preocupar com o outro. Assistam, de preferência em família ou
com amigos!
Por: Fabiana Ratti, psicanalista
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