A Casa Torta (2017) é um filme
britânico de mistério, baseado no livro (1949) homônimo de Agatha Christie, que
faz jus ao legado da Dama do Crime. O filme é muito bem interpretado por atores
de peso e bem dirigido por Gilles Paquet-Brenne.
Casa Torta porque é uma grande
casa que foi sendo construída ao longo do tempo e cada ala abriga uma parte da
família, além disso, há uma brincadeira de Agatha Christie de que é uma família
torta que nela habita.
A Casa pertence a Aristide
Leonides, um grego que se mudou para a Inglaterra e fez fortuna; uma parte com
o próprio trabalho e a outra com negócios ilícitos que são investigados ao
longo do filme. Aristide Leonides é assassinado no começo por uma injeção que
deveria conter insulina, mas continha veneno letal. Quem aplicou foi sua
segunda esposa 50 anos mais nova. A primeira já havia falecido. Ela sabia de
seu conteúdo? Seria ela a assassina?
Muito óbvio para ser um livro da
Dama do Crime.
Sophia, a neta de 25 anos chama
seu affair para investigar o crime, filho do Inspetor Chefe da Scotland
Yard. Charles Hayward chega na casa taciturna e tenta falar com as pessoas, mas
é em vão. Encontra a esposa 50 anos mais velha namorando o professor das
crianças, a cunhada de Leônidas caçando no jardim, os dois filhos de Leonides
com suas respectivas esposas, os 3 netos: Sophia, Eustace e Josefine, e a babá.
Cada um numa ala da mansão, cada um com suas esquisitices e narcisismos
envoltos em si próprios. Um dos irmãos reclama que agora, aos 55 anos estaria
órfão e não saberia o que fazer... Retrata bem a morosidade, a letargia, a
inércia em que a família se encontrava vivendo sugando o dinheiro do patriarca
da família. A única tagarela era Josefine, neta de uns 10, 12 anos que andava
pela casa com um caderno e observava a todos, dizia-se invisível, ninguém a via
ou falava com ela.
Hayward é bem tenaz. Ele insiste,
se esforça e tenta romper o silêncio, mas o único eco que encontra é a voz de
Josefine. Agatha Christie lia Freud. Eram contemporâneos e em alguns livros ela
cita a importância de interpretar os sonhos e de ver o lado psicológico das
pessoas e das relações. Nesse ela faz o quadro perfeito da criação de um
psicopata. Ela mostra o quanto a criança é um espelho da família, o quanto
delata pontos que a família não está conseguindo ver ou colocar em palavras. A
frieza, o descaso que o psicopata tem pelo outro e pela vida, o raciocínio
intacto desprovido de emoções. Numa casa em que cada um olha para si mesmo, não
há como criar um ser desejante. Para dar vida a um sujeito, não adianta apenas
o biológico ou intelectual: os cuidados com sono, alimentação e estudo. É
preciso muito mais. É preciso desejar aquele ser, é preciso ouvi-lo, escutá-lo.
O olhar do outro sobre o sujeito é fundamental para a construção de seu
aparelho psíquico, para que assim surja um sujeito desejante.
Agatha Christie, diferentemente
de outros livros, deixa o assassino bem visível, facilmente perceptível se não
tivermos horror da verdade. A escritora mostra como é possível a construção de
um ser vazio, desprovido de emoções, que mata a sangue frio, típico do
psicopata. O diretor, captando o espírito, narra de forma sublime através da
sétima arte.
Por: Fabiana Ratti, psicanalista.
Mas afinal de contas ,a Josephine era psicopata não? e quando uma criança e psicopata ou narcisista , ela já nasceu assimou existe a possibilidade de se tornar?pergunto pq eu acho que já se nasce assim, mas sou leiga no assunto....
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