quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Le Horla de Maupassant e O Funeral Antecipado de Allan Poe, o medo e o horror na psicanálise


Em homenagem ao Halloween que é comemorado em outubro, vamos falar do que dá medo, do que assusta. Não posso ir pela filmografia porque essa minha coleção é realmente escassa. Acho que os únicos que consegui ver inteiros foram: “O Iluminado” dos anos 1980 e o “Sexto Sentido” dos anos 1990.

Mas autores como Guy de Maupassant, Emile Zola, Edgar Allan Poe, Théophile Gautier sempre rondam as minhas leituras. Um clássico da literatura é Horla, texto de Maupassant em que o sonho e a realidade se misturam. O pesadelo ganha proporções
inimagináveis onde o dentro e o fora se misturam, mostrando que não há uma fronteira entre o mundo externo e o interno. Desta forma, consequências graves acontecem chamando atenção para a seriedade de cuidar do aparelho psíquico.

Por seu lado, Allan Poe é um mestre. Tem inúmeros contos. Fantasmas, mortos, gatos assombrosos. Allan Poe brinca com o impensável, o irrepresentável, o que não poderia acontecer mas, quem sabe... O aparelho psíquico é assim. Ele vive criando alusões e fantasias de situações inimagináveis. Por outro lado, a vida apresenta, muitas vezes, tristes realidades que coloca o sujeito frente ao vazio da morte, da solidão, do que Lacan chama de o “impensável a espera de se inscrever”. Leva um tempo para ‘cair a ficha’, para a pessoa explicar e encontrar representações do horror que se abateu: uma traição, uma separação, uma morte, uma demissão inesperada.

É disso que o ser humano tem medo. Medo do medo. Medo do horror, da perda, da castração, do inesperado. Assistir aos filmes, ler contos e romances sobre o assunto instigam o aparelho psíquico a trabalhar. É como as crianças que brincam para elaborar seus pensamentos. Enquanto os monstros estão nas telas ou nas páginas dos livros, eles estão longe, separados, no mundo da ficção e assim, o ser humano pode entrar em contato com o que há de pior via sentimento e pensamento, longe da concretude da vida. 

Um dos contos de Allan Poe de que mais gosto é O Funeral antecipado. É a história de uma moça que é enterrada viva. Impensável. Horror do horror. Mas não somente ela consegue escapar de seu túmulo, como consegue reconstruir a vida casando-se com outro, pois em sua primeira vida, era infeliz no casamento. Como na época não havia divórcio, seria impossível se separar para reconstruir sua vida, porém, como havia sido enterrada viva por seu marido, tinha o atestado de óbito, assim, pode casar-se novamente com o amor de sua vida!!!

Contos fantásticos que misturam horror, medo, ilusão, sonhos impensáveis e humor negro dão o tom dessa brincadeira com chapéus de bruxas e cabeças de abóbora! Uns dias para brindar o impensável que existe em nós.   

Por: Fabiana Ratti, psicanalista

Nenhum comentário:

Postar um comentário