Ao longo de seu trabalho, Lacan foi se dando conta da importância
e função do olhar. A maneira com que o sujeito olha para determinadas situações
altera a forma como o sujeito irá agir e se posicionar, altera a
responsabilidade e a vida da pessoa.
Lacan, no Seminário 11, discute a técnica da anamorfose.
Como um objeto ou cena podem ter uma distorção das formas, dependendo de como
se olha. Dependendo do ângulo que o objeto é olhado ele toma formas distorcidas
ou até irreconhecíveis.
Lacan utiliza-se da tela Embaixadores de Hans
Holbein (1497-1543), onde podemos ver um objeto estranho no primeiro plano, mas
se observarmos melhor,
reconhecemos um
crânio. Num momento em que a época das navegações estava em alta... vemos o
globo, a bússola e o crânio. Segundo Lacan, “o olhar muda todas as
perspectivas, as linhas de força, de um mundo...” O exercício de olhar, como
olhar, por que olhar, é o exercício da psicanálise. O quanto é possível se
enganar ao olhar algo, imaginar, pensar, ver em outra perspectiva...
Há um “uso invertido da perspectiva na estrutura da
anamorfose.” que faz um engano nos olhos. Em francês, um “trompe l’oil”, técnica
de pintura com truques de perspectiva que cria ilusões de ótica.
Na mesma época de Holbein, temos o pintor Italiano Arcimboldo
(1527-1593), que com imagens da natureza: animais, frutas, verduras e flores,
pela primeira vez, cria fisionomias humanas causando um “engano nos olhos”.
Entre os modernistas, temos o pintor espanhol Pere Borrell
del Caso (1835-1910) Escaping Criticism por “esse quadro não é nada mais do que é
todo quadro, uma armadilha do olhar.” Lacan.
Além do pintor espanhol surrealista Salvador Dali (1904-1989) e o artista gráfico holandês Maurits Escher (1898-1972), excelentes “enganadores”...
Entre os contemporâneos, temos Banksy, Kurt Wenner, Edgar Müller, Tracy Lee Stum, Oleg Shupliak, artistas que trabalham com Chalk art, criam desenhos tridimensionais com giz e se utilizam da técnica de projeção conhecida como anamorfose. Esta técnica cria uma ilusão de ótica 3D quando a imagem é vista a partir de determinado ângulo.
Assim como a arte pode utilizar recursos da técnica de anamorfose, o aparelho psíquico, seguindo o desejo, também pode ver transformações, distorções, recombinações, aumento de complexidade e fusões de imagens seguindo desejos, paixões, invejas, ciúmes. Segundo Lacan: “esse privilégio do olhar está na função do desejo.”
Por: Fabiana Ratti, psicanalista
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