O clássico conto de fadas A
Bela adormecida mostra uma princesa que recebe uma maldição e aos 15 anos
fura o dedo em um fuso e cai adormecida até que o príncipe apareça.
Belas e belos adormecidos
aparecem aos montes no divã. Em muitos momentos, como analista, sinto: “mais
um(a) bela(o) adormecida(o)”, ou seja, mais uma pessoa que deixou passar tanto
tempo para mexer numa situação que estava incomodando. É muito comum a pessoa
ficar inerte em sua pulsão de morte. Ficar presa numa bolha e não conseguir dar
um passo. Como Aurora. Paralisada em sua cama esperando uma outra pessoa fazer
algo. E assim, passam-se anos...
Quando a pessoa decide ver, é um
choque. A pessoa fica estarrecida de como aceitou tal situação, como não tomou
atitude, como ficou na posição de objeto não se manifestando. Todos passam por isso. É impossível estar
atento a tudo, ver tudo e se posicionar para tudo. Não há quem não tenha
passado por uma análise e nunca tenha sentido: “Como deixei passar tanto tempo?
Como não me posicionei nessa situação?” E mesmo quando a pessoa começa a ver,
vai um tempo até compreender, ‘cair a ficha’, abstrair e concluir para tomar
uma atitude sábia e interessante para ela.
Também podemos dizer que o
sangramento e o começo do sono profundo têm a ver com a fase da adolescência. O
fim da infância e uma passagem para a vida adulta, momento em que Aurora
desperta uma mulher preparada para a vida ao lado do príncipe. Nessa fase,
mesmo sendo bastante agitada, nada dormente, é uma fase em que, muitas vezes,
na análise, a pessoa não se reconhece. A pessoa ainda está formando sua
personalidade, faz coisas que depois se arrepende, age por impulsividade. E
então, mais pra frente, se define, se nomeia, desperta para a vida.
Independente da adolescência ou
não. É muito comum ficarmos dormentes para determinadas situações que nos
incomodam e não queremos mexer. Não querermos pagar o preço da visão, encarar
os problemas de frente... e assim, como a bela adormecida, repousamos felizes e
dormentes por anos...até que um dia, é preciso lidar com as consequências dessa
paralisia.
Por: Fabiana Ratti, psicanalista
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