quinta-feira, 5 de setembro de 2019

A Bela adormecida e a paralisia frente a determinadas situações da vida




O clássico conto de fadas A Bela adormecida mostra uma princesa que recebe uma maldição e aos 15 anos fura o dedo em um fuso e cai adormecida até que o príncipe apareça.

Belas e belos adormecidos aparecem aos montes no divã. Em muitos momentos, como analista, sinto: “mais um(a) bela(o) adormecida(o)”, ou seja, mais uma pessoa que deixou passar tanto tempo para mexer numa situação que estava incomodando. É muito comum a pessoa ficar inerte em sua pulsão de morte. Ficar presa numa bolha e não conseguir dar um passo. Como Aurora. Paralisada em sua cama esperando uma outra pessoa fazer algo.  E assim, passam-se anos... 

Quando a pessoa decide ver, é um choque. A pessoa fica estarrecida de como aceitou tal situação, como não tomou atitude, como ficou na posição de objeto não se manifestando.  Todos passam por isso. É impossível estar atento a tudo, ver tudo e se posicionar para tudo. Não há quem não tenha passado por uma análise e nunca tenha sentido: “Como deixei passar tanto tempo? Como não me posicionei nessa situação?” E mesmo quando a pessoa começa a ver, vai um tempo até compreender, ‘cair a ficha’, abstrair e concluir para tomar uma atitude sábia e interessante para ela.

Também podemos dizer que o sangramento e o começo do sono profundo têm a ver com a fase da adolescência. O fim da infância e uma passagem para a vida adulta, momento em que Aurora desperta uma mulher preparada para a vida ao lado do príncipe. Nessa fase, mesmo sendo bastante agitada, nada dormente, é uma fase em que, muitas vezes, na análise, a pessoa não se reconhece. A pessoa ainda está formando sua personalidade, faz coisas que depois se arrepende, age por impulsividade. E então, mais pra frente, se define, se nomeia, desperta para a vida.

Independente da adolescência ou não. É muito comum ficarmos dormentes para determinadas situações que nos incomodam e não queremos mexer. Não querermos pagar o preço da visão, encarar os problemas de frente... e assim, como a bela adormecida, repousamos felizes e dormentes por anos...até que um dia, é preciso lidar com as consequências dessa paralisia.   

Por: Fabiana Ratti, psicanalista   

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