Rapunzel é um conto de fada que
tem origem na Alemanha e se popularizou ao longo dos anos. Narra a história da
bruxa má que resgata a bebê e a coloca numa torre. Anos se passam até que na adolescência, um
príncipe descobre e começa a frequentar a torre utilizando as tranças de
Rapunzel, causando raiva na bruxa e a luta da menina por sua liberdade.
Dessa forma, é uma história de
possessão de uma pessoa sobre outra. A bruxa não queria a menina como sua
companhia ou para cuidar dela. Queria apenas possui-la como um objeto que se
compra, que se tem. Muito comum entre os familiares que escondem os filhos
embaixo das asas e possessivamente não os deixam sair, passear, ter suas
próprias experiências e crescer. Os contos de fada discutem temas preciosos da
natureza humana.
Em Enrolados, filme da
Disney que narra a história de Rapunzel, fica evidente mais um ponto. Quando os
filhos crescem e a juventude aflora, mostra, automaticamente a seus pais, que a
idade chegou e muitas vezes, a beleza e a juventude foi embora. Agora é o
momento deles. O encontro dos filhos com a sexualidade, o namoro e o casamento
afloram ainda mais esse sentimento. Desta forma, não é incomum, pais e mães
boicotarem namoros e encontros com esse sentimento. Os filhos ficando em casa,
não saindo, não se casando, causam, imaginariamente nos pais, uma construção de
que as coisas continuam iguais e ‘ninguém está envelhecendo’. Em Enrolados,
manter Rapunzel na torre é “garantia” de beleza e juventude para a bruxa.
Em Análise terminável ou
interminável (1937), Freud, no final de sua obra, se interroga a respeito
do objetivo de uma análise e quando podemos declarar o término dela. Entre
questionamentos coloca que o objetivo da análise é tratar o ego. Com o ego
muito grande, não vemos o outro. Para Lacan, na década de 1970, a análise, além
do trabalho com o ego, engloba realização de projetos pessoais e construção de
laços afetivos.
Neste sentido, a psicanálise é
bem interessante para os pais verem os filhos com outros olhos. Conseguirem
diminuir o ego e ver para além dele. Verem os filhos como uma pessoa separada,
que têm suas ideias e vontades próprias. Além disso, é bacana que os pais
consigam encontrar novos objetivos de vida e fazerem novos laços sociais quando
os filhos estão saindo do ninho, estão começando a voar. Poderem pensar que uma
nova vida se inicia também para eles. Hoje, com esportes e tantos recursos
médicos, odontológicos, nutricionais e estéticos, aos 50, 60 anos, é possível
estar em forma, começando uma nova vida, uma nova profissão e, quem sabe, um
novo casamento. Ou seja, não é segurando a vida de uma pessoa que garantimos a
plenitude e a juventude do outro. Isso é uma ilusão, um pensamento imaginário.
Assim como a ideia de ficar solteiro para “garantir” a juventude. A vida passa
para todos. A idade chega para todos. O importante é que no caminho consigamos
ter construções, realizações e pessoas queridas à volta. Pessoas que queiram
ficar ao nosso lado sem precisarmos amarrar ninguém na torre.
Por: Fabiana Ratti, psicanalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário