Por: Fabiana Ratti
Potiche – Esposa troféu, uma comédia despretensiosa do diretor francês François Ozon. O filme parte de uma tradicional família burguesa. A Esposa, Suzanne Pujol (Catherine Deneuve), que herda a fábrica de guarda-chuvas do pai e deixa o marido Robert Pujol (Fabrice Luchini) administrá-la. Eles têm um casal de filhos e nenhum deles trabalha. A menina repetiu a história de sua mãe, casou-se e teve filhos. O menino, um bon vivant estudante de artes.
O filme se passa em 1977 e sua narrativa se desencadeia a partir da greve dos funcionários da fábrica que pleiteiam por melhorias. Robert demonstra ser um homem desprezível. Com traições, má administração da empresa e o menor respeito pelos funcionários, Robert é mantido prisioneiro dos funcionários e assim, a Sra Pujol se vê obrigada a sair de sua função ‘esposa troféu’ para ir negociar com os funcionários com a ajuda do líder sindical Maurice Babin (Gérard Dépardieu) e antigo amante, portanto, arquiinimigo de seu marido.
Após este acontecimento, o filme faz uma guinada na discussão clássica família burguesa versus potencial feminino para o trabalho. Um tom feminista dos anos 70 imbuído de ‘as mulheres vão dominar o mundo’ do século XXI.
O filme me fez lembrar as palavras do historiador britânico E.P. Thompson (1924- 1993) em “Costumes em Comum” que diz que as comunidades trabalhadoras tinham criado seus próprios espaços culturais, possuíam meios de fazer valer suas normas e cuidavam para receber o que lhes era devido. Não eram os direitos adquiridos hoje em dia e talvez fosse menos do que o merecido. Mas, não foram sujeitos passivos da história. Os sindicatos foram se formando junto com a engrenagem dos trabalhadores.
Thompson também discorda da ideia de “sempre colocar a mulher como vítima, negando-lhe atividade própria.” (p.346) Thompson diz em “Costumes em Comum” que quando ia a palestras na década de 70 precisava omitir essas ideias pois as feministas entendiam que era um posicionamento contra as mulheres. Não. Thompson se defende e diz ver o contexto histórico, saber das reais dificuldades da inserção das mulheres na sociedade, mas inclui que elas tinham seu próprio reduto de ação e que não eram sujeitos passivos, mas responsáveis por seus próprios atos e pela direção que desejavam seguir.
Potiche é um filme simples que enaltece essa visão de Thompson.
Diretor: François Ozon
Elenco: Catherine Deneuve, Gérard Depardieu, Fabrice Luchini, Karin Viard, Judith Godrèche, Jérémie Renier, Sergi López
Produção: Eric Altmeyer, Nicolas Altmeyer
Roteiro: François Ozon
Trilha Sonora: Philippe Rombi
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