sábado, 3 de março de 2012

A dama de ferro






Por: Fabiana Ratti 

Minha parte no blog é elaborada por filmes, livros e peças que assisti, refleti e vim escrevendo ao longo dos anos. Com duas filhas pequenas e a necessidade de certa logística para se locomover para os programas culturais de SP, o blog foi uma forma de estar mais próxima das artes sem sair de casa. 

Porém, A Dama de Ferro de Phyllida Lloyd me arrastou ao cinema, principalmente pelo fato de Margaret Thatcher ter sido primeira-ministra de 1979 a 1990 e, de certa forma, ter feito parte de minha adolescência, quando a via pela TV com seus posicionamentos firmes e declarações decidiadas em meio às efervescentes discussões políticas e econômicas da década de 80.

Sem dúvida, um belíssimo filme e uma exímia interpretação de Meryl Streep em uma montagem que, através de lembranças, podemos ver momentos importantes e decisivos de sua vida familiar e política.
Como este blog tem o compromisso de, através das obras de arte, fazer um debate com os saberes, e a minha função é pelo viés psicanalítico, destaco aqui dois momentos do filme:

O primeiro, evidentemente, é quando Thatcher, em avançada idade, passando as agruras da solidão, do marasmo, das dificuldades biológicas e psíquicas típicas da idade, é levada ao médico pela filha. Ela demonstra, de forma brilhante, a necessidade que ela está de falar, de contar como está se sentido, de relatar momentos de sua vida, ser escutada e refletir. O médico não está preparado. Com perguntas práticas e objetivas, com interrupções típicas da vida moderna, Thatcher não consegue se abrir. Mas, Meryl Streep nos reporta ao nascimento da psicanálise quando a paciente fala ao médico, ‘fique quieto, deixe-me falar’. O ser humano tem necessidade de se expressar e, ao falar com o outro, a pessoa se escuta e consegue elaborar idéias e pensamentos para fazer avançá-los, não ficando naquela repetição alucinante em que Thatcher se encontrava.

O segundo momento que destaco é quando Thatcher foi abordada por uma admiradora enaltecida por estar à sua frente, frente a um mito. Thatcher foi enfática, dizendo que há uma diferença em ser alguém, como as pessoas buscam hoje em dia, em contraposição à idéia de fazer algo. Fazer algo de útil, fazer algo pelo outro, fazer algo por uma nação. Esse que realmente é o diferencial de sua vida. Quando ela entrou no poder a Inglaterra era uma e ao sair era outra, pela contribuição de seu esforço, raciocínio, dedicação e capacidade de enfrentamento político. 

Uma das contribuições da psicanálise lacaniana é a ênfase no fazer. Lacan, no fim de sua carreira diz que não adianta ir ao psicanalista somente para saber, conhecer-se mais. Este é um dos estágios. É uma possibilidade que trás avanços e move o aparelho psíquico saindo das repetições alucinantes como Thatcher se encontrava, por exemplo. Mas, o outro compromisso é com o fazer. Lacan fala em um savoir-faire, um saber- fazer frente à vida. Um saber-fazer que deixe marcas e faça uma diferença para a própria vida e para a vida daqueles que o cercam (uma família, uma comunidade, uma nação) e nisso, independente do lado político que ocupava, não há dúvida que Thatcher fez a sua parte e deixou marcas na história.

Poderíamos ficar aqui ainda por alguns parágrafos a discutir esse belíssimo filme e momento histórico mas, o filme também nos faz refletir o quanto os laços afetivos e familiares são de profunda importância, que nos momentos mais delicados e angustiantes, são essas pessoas que estão ao nosso lado nos bastidores, nos dando força para crescer e continuar a batalha, mesmo com divergências que possa haver entre eles. O filme nos faz pensar, principalmente, que a infância de nossos filhos é muito curta e precisa ser vivida ao máximo, pois depois, ficam as saudades! Desta forma, encerro aqui a escrita e levarei as meninas e o primo assistirem "Pedro e o Lobo", premiado teatro infantil que está passando no Sesc Consolação, afinal, a vida cultural precisa continuar!  

Atores: Meryl Streep, Jim Broadbent, Richard E. Grant, Harry Lloyd, Anthony Head, Richard E. Grant, Roger Allam, Olivia Colman, Susan Brown.
Direção: Phyllida Lloyd
Gênero: Drama
Distribuidora: Paris Filmes

Nenhum comentário:

Postar um comentário