segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Ser ou não ser psicanalista?

 

Quando um líder de um grupo usa de seu poder para determinar que toda uma classe deve votar numa


mesma pessoa ele está usando de abuso de poder, coerção e rebaixando intelectualmente seus colegas.

Se para participar do grupo dos psicanalistas precisamos ser idênticos, pensar exatamente igual e tomar atitudes semelhantes, ficar apenas no nível da identificação e não passamos para uma relação de objeto...

Construímos uma sociedade narcisista, ditatorial, massificada pelo senso comum ao invés de incentivar uma sociedade pensante, formada por sujeitos que decidem, escolhem e respeitam, de fato, as diferenças.

Sair da identificação para a relação de objeto...

Sair da demanda do Outro para a decisão de sujeito...

Sair do ‘ser amado’ pelo grupo para uma escolha pessoal...

Não é uma tarefa fácil...

Mas é o compromisso inalienável do psicanalista!

Por: Fabiana Ratti, psicanalista

 


 

Psicologia das massas e análise do eu – Freud

A relação de objeto – Seminário IV de Lacan

A ética da psicanálise – Seminário VII de Lacan

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Síndrome de Cabana

 

O psicanalista Jacques Lacan (1901-1981) dizia que frente ao Real, face a uma situação inusitada, traumática, a pessoa tem algumas possibilidade: sentar e chorar, fugir, ficar paralisada e em choque,  manifestar sintomas psicossomáticos, agredir o outro  ou pode respirar, pensar e reagir.  Essa última não é uma tarefa fácil! Mas a psicanálise lacaniana trabalha exatamente com a ideia de que é preciso “saber-fazer” a vida! Assim como Jackson com seu canal PAN (PAN#24 @jacksonaraujo), bem como muitas outras pessoas em diversas áreas... a grande questão que se impôs hoje em dia é saber se “reinventar”. 

A vida apresenta muitos dissabores, situações inesperadas, frustrações que provocam mágoas e desilusões que vão tendo consequência ao longo da vida. A pandemia foi algo muito inesperado. Foi um ‘puxão de tapetes’ para muita gente. As pessoas estavam indo numa direção até então tida como “normal” e com o lockdown mundial o mundo todo precisou se adaptar e criar, construir novos recursos numa vida totalmente inesperada. Isso foi um susto e o aparelho psíquico tem um outro timing. Lacan fala em tempo lógico, um tempo do inconsciente, a conhecida frase: uma hora de um beijo pode parecer um segundo e um segundo numa chapa quente, pode parecer uma hora. Às vezes lembramos vividamente algo que nos aconteceu na infância e não lembramos o que comemos no almoço. Ou seja, o tempo emocional é diferente do tempo cronológico, o aparelho psíquico tem outra dimensão. Tudo isso para dizer que as pessoas tomaram um choque, um susto, e cada um tem um tempo e um modo para reagir.   

O primeiro ponto importante a considerar é o que vem sendo chamado de Síndrome de Cabana, que é esse tempo do inconsciente. A pessoa levou a lambada, mas não está conseguindo reagir, processar, raciocinar este novo momento. Ela está anestesiada e então fica com medo de tudo, fica refém dos acontecimentos e não ‘agente’ de sua própria vida. Um segundo ponto é a pessoa que teve perdas irreparáveis com a pandemia. Perdeu vidas, emprego, moradia. Essa pessoa tem a real noção da perda e tem a sensação de que ela pode devastar ainda mais a sua vida. Isso a paralisa, não conseguindo executar tarefas comuns e sair de casa normalmente como antes acontecia. Outras pessoas, mesmo sem terem tido perdas concretas, apresentam esse sintoma e têm a noção de que coisas muito ruins podem acontecer a qualquer momento.

Em todas essas situações se faz muito importante o acompanhamento médico e psicanalítico. A vida é cheia de situações inesperadas e de risco, e o ideal é trabalhar o lado emocional, se fortalecer para conseguir enfrentar a vida e o que ela naturalmente carrega de “riscos”.

Há outras situações que eu não nomearia como ‘síndrome”, porque não é uma doença, não é patológico, mas que podemos dizer que é uma ‘vida de cabana’. Como psicanalista, em casos clínicos, percebo que muitas pessoas descobriram seus próprios lares e aproveitaram esse tempo para descobrirem a si mesmo. Então, tenho ouvido no divã de  algumas pessoas que apesar das incertezas e, claro, insegurança diante do “novo normal”, conseguiram se aceitar, se auto afirmar, tiveram forças para planos e mudanças. Mulheres assumiram cabelos brancos e sentiram-se bonitas, de cabeça erguida. Abandonar a vida na cidade que representava muito stress e tentar a vida mais simples, algumas migrando para o campo e até mesmo aproveitar para  resolver e “limpar” problemas de relacionamento familiar, olhar para seus sistemas familiares.

Essa pandemia colocou um espelho gigante em frente a cada uma das pessoas, as prendeu em casa e as interrogou a respeito de trabalho, amores, moradia, consumismo. O aparelho psíquico precisa ser exercitado, precisa refletir, precisa de oxigênio para ter força emocional e sobreviver aos galeios e tsunamis que a vida apresenta. Somente assim é possível responder ao trauma de forma criativa e construtiva. Testemunho muitas pessoas olhando para si, querendo construir e se fortalecer internamente. Isso é muito possível e saudável. Deixar uma vida ‘eufórica’, de saídas e baladas incessantes para uma internalização e um reencontro consigo mesmo, levando, desta forma, uma vida mais intimista... uma “vida de cabana”.

Por Fabiana Ratti – psicanalista 

Primeiramente publicado no PAN#24 @jacksonaraujo

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Leituras de Psicanálise

 

                       Online  2021

Ciclos de Leituras Comentadas de Psicanálise -

Leituras feitas por um viés da clínica lacaniana. 

Freud  - Sextas das 12h às 13h. 

 "Sobre os sonhos" - Fev - 26 Março - 5, 12, 19, 26 

 "Início do tratamento e resistências" - Abril - 9, 16, 23, 30 e Maio 7.

"Transferência - Amor e dinâmica" - Maio - 14, 21, 28 e Junho - 11 e 18. 

"Sobre o narcisismo - uma introdução" Agosto - 6, 13, 20, 27. 

"Instintos e suas vicissitudes e Repressão" Setembro - 17, 24, Outubro - 1o e 8. 

"Luto e melancolia" - Outubro - 22, 29, Novembro - 12 e 26. 



Módulos de Leituras Comentadas de Seminários de Lacan 





Seminário 1 - Jacques Lacan - "Os Escritos Técnicos de Freud"

Lacan - segundas feiras 

Segundas das 12h às 13h 

Fev - 22 Março 1, 8, 15 - Capítulos 1, 2 e 3 

Março 22, 29 Abril -5, 12 - Capítulos 4, 5, 6

Abril - 19, 26 Maio 3, 10 - Capítulos 7, 8 

Maio - 17, 24, 31 Junho 7 - Capítulos 9, 10

Junho - 14, 21, 28 Julho 5 - Capítulos 11, 12, 13

Agosto - 2, 9, 16, 23 - Capítulos 14, 15, 16 

Agosto - 30 Set 13, 20, 27 - Capítulos 17, 18, 19

Outubro 4, 18, 25 Nov 8 - Capítulos 20, 21, 22


Sejam bem-vindos!

Vendas de Ingressos pelo Sympla.com.br (vejam no site os valores)

Entrada inteira - para quem consegue pagar inteira

Entrada meia - para quem consegue pagar meia. 

Assim, aqueles que conseguem pagar mais contribuem com aqueles que estão mais no começo de suas jornadas. 

Os textos são acessíveis por internet. 

Textos de Freud e de Lacan podem ser encontrados na internet. 

As aulas NÂO oferecem material 

Tudo que for apresentado ficará em outras plataformas após as aulas serem dadas para novas compras.   

Psicanalista: Fabiana Ratti 

insta: psicanalistafabianaratti

FB Fabiana Ratti Psicanalista Lacaniana 

www.unbewusste.com.br




 



quarta-feira, 9 de setembro de 2020

 

Aula online
Freud
 Além do Princípio do Prazer 
1920 -2020




Mito do amor


 ‘A natureza humana original não era semelhante à atual, mas diferente. Em primeiro lugar, os sexos eram originalmente em número de três, e não dois, como são agora; havia o homem, a mulher, e a união dos dois (…)’ Tudo nesses homens primevos era duplo: tinham quatro mãos e quatro pés, dois rostos, duas partes pudendas, e assim por diante. Finalmente, Zeus decidiu cortá-los em dois, ‘como uma sorva que é dividida em duas metades para fazer conserva’. Depois de feita a divisão, ‘as duas partes do homem, cada uma desejando sua outra metade, reuniram-se e lançaram os braços uma em torno da outra, ansiosas por fundir-se.’
      A teoria que Platão colocou na boca de Aristófanes,  Freud cita em 1920. 

Freud explica no texto que o mito de Platão trata não apenas da origem da pulsão sexual, 'mas também da mais importante de suas variações em relação ao objeto'. 
Essa fantasia de haver uma metade que completa a outra, é uma ideia imaginária bastante comum na clínica. 
Que será discutido na leitura de Freud online - início sexta 2 de outubro de 2020 às 12h. Sympla.com.br para inscrições. 
 Profa. Fabiana Ratti, psicanalista
    


terça-feira, 8 de setembro de 2020

Curso de Leituras psicanalíticas


 

Leituras

de Freud online:


A psicanálise é sobretudo a arte de incluir o não-todo, a castração e os limites, que seja na clínica, nos estudos, na vida. Dessa forma, quanto mais incluímos que algo falta, mais conseguimos batalhar por nossos sonhos e desejos. Dessa maneira, leremos Freud, tranquilos de que terá muito mais a aprender, a crescer e a construir. Que de maneira nenhuma essas aulas irão explicar tudo e responder todas as questões que os textos suscitam, muito ao contrário. Quanto mais lemos psicanálise, mais perguntas surgem, novos conceitos aparecem e mais desejamos ler outros e outros textos. De toda forma, elas darão grandes contribuições para irmos nos tornando clínicos pesquisadores dessa arte científica!


Metodologia:


As aulas são divididas entre os 7 capítulos do texto e separadas por parágrafos, assim é possível seguir com qualquer tradução que se tenha acesso. Destacamos frases essenciais, frases chave que ajudam na leitura e compreensão para que os alunos possam ler o texto a partir dessas marcas e pontuações.

A discussão é feita sobretudo do ponto de vista clínico e atual. Como podemos ver e pensar as reflexões de Freud nos tempos de hoje? São feitas associais com a psicanálise Lacaniana.

Inscrições: Sympla.com.br  Seja bem-vindo!

Referência bibliográfica para outubro de 2020:

Além do princípio do prazer. In: S. Freud (Org.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. XVIII, pp. 17-90.) Rio de Janeiro: Imago. (Publicado originalmente em 1920)   (1996).   


 


Paixão

 


O que seria o estado de paixão que muitos falam? Somente no começo de namoro é possível estar apaixonado? Somente para adolescentes?

Como psicanalista penso que há uma confusão entre o que Lacan chama de estado de Real e a Paixão. O Real para a psicanálise é diferente da realidade. O real é aquilo que não tem nome e nem nunca terá. É o que não sabemos nomear. O que não sabemos explicar. Um susto, um impacto, uma surpresa. Quando o efeito de real passa e compreendemos aquela situação, ela se torna da ordem do simbólico. Dessa forma, no começo de um relacionamento, temos um espaço em aberto. Não sabemos o que vai acontecer, como a pessoa funciona, o que ela quer conosco... Então recobrimos com o imaginário, com castelos e sonhos. Ou seja, no meio de muitos sentimentos, envolto a novas interrogações, adicionamos o componente biológico da adrenalina e outros efeitos corporais. Essa soma, as pessoas chamam de paixão.

Por outro lado, muitos veem aqui ao analista e com 20, 30 anos de casado, são capazes de falar que são apaixonados por seus cônjuges. Como explicamos isso? Eles sentem uma tremedeira? A mão esfria toda vez que encontra o parceiro? O coração vem na boca?

Outros ainda fazem uma comparação da paixão com o sofrer, com o ficar arrasado, na fossa. Aí já podemos ir por caminhos do masoquismo, de neuroses e doenças psíquicas que as pessoas não tratam e frente a relacionamentos, elas ficam afloradas. Isso podemos ver direto, especialmente em filmes cults europeus, há muita confusão entre paixão e sanidade mental.  

Como psicanalista, pela prática clínica, penso que é possível manter a paixão depois de anos de casado sem precisar manter uma ambulância na porta. Para estar apaixonado, o coração não precisa disparar o tempo todo e nem dilacerar o peito, isso é um efeito de real da novidade e do inusitado da vida, que tem um tempo lógico para terminar, sair do real e ser abstraído pelo simbólico.

Do que vejo, a verdadeira paixão é atemporal...  a paixão é um colorido diferente, um brilho nos olhos, uma vontade de estar junto, uma felicidade em estar perto. É um colorido especial que muda tudo e transforma tudo. É uma sensação que faz toda a diferença estar ou não na presença da pessoa.  Não tem idade para acontecer e nem tempo para terminar!

Do meu ponto de vista, façam mais análise e fiquem mais apaixonados pela vida e por seus amores... Concordam? Discordam? Escrevam...  

Por: Fabiana Ratti, psicanalista 

Foto: Manet. 

Amor
Quando duas pessoas fazem amor
Não estão apenas fazendo amor
Estão dando corda ao relógio do mundo

Mario Quintana


quarta-feira, 2 de setembro de 2020



 

"Além do Princípio do Prazer"  Sigmund Freud 1920-2020 

Neste texto Freud:

-  Passa da 1a tópica do aparelho psíquico para a segunda tópica  

- Separa em pulsão de vida e pulsão de morte 

- Fala sobre o princípio de realidade x princípio do prazer 

- Explica a compulsão à repetição 

- Fala sobre a inércia e o princípio de nirvana 

Vamos fazer leitura online começando 1o de outubro de 2020. 

5 aulas, uma hora cada uma às 12h, sextas-feiras de outubro. 

Venda Sympla.com.br  Psicanalista: Fabiana Ratti. 

Venham! Participem! Vamos conhecer conceitos psicanalíticos. 

terça-feira, 26 de maio de 2020

A Terceira Margem do Rio e o confinamento na canoa


A Terceira Margem do Rio é um dos contos mais famosos de Guimarães Rosa
publicado em 1962 no livro Primeiras Estórias. Fala sobre um jovem que decide sair da casa da família e abandona a sociedade para viver numa pequena canoa num grande rio.

Muitas interpretações e leituras foram feitas a respeito do crescimento e amadurecimento do jovem. A leitura mais clássica da psicanálise é que ele retrata o famoso Complexo de Édipo para Freud: a primeira margem seria a mãe. O conhecido, o que está mais perto e familiar. O amor incondicional que temos nos laços de sangue e onde aprendemos as primeiras palavras, os primeiros passos, a construção do sujeito e as ligações de amor. A segunda margem seria o pai. A lei, as regras que nos fazem entrar no mundo da cultura. E a terceira margem representaria nossas próprias escolhas. Nossos caminhos. Mesmo que numa pequena canoa é assim que começamos a vida. Num espaço pequeno e a vida lá fora parece muito grande, caudalosa, cheia de novas aprendizagens.

O grande diferencial de uma obra de arte é que ela é sempre contemporânea, atual, se encaixa nos momentos da vida. Agora, na pandemia, nos deparamos com a solidão, o isolamento de uma canoa. Não sabemos o que o rio nos reserva... vemos o sol ‘nascer’ e se ‘pôr’ todos os dias... como jamais havíamos reparado numa cidade grande. A canoa nos levará para uma terceira margem. Não sabemos o que encontraremos do lado de lá. Entramos na canoa para sair rapidamente... talvez 15 ou 30 dias... e os dias vão passando, passando. Entramos com uma idade... e muitos aniversários estão acontecendo. Sairemos da canoa com outra idade, num outro contexto histórico e político, muitos ministros terão passado por nós. Por um lado, nada terá acontecido. Apenas teremos ficado na canoa, no confinamento. Sem festas, bares, encontros sociais. Por outro, muitas aprendizagens, inúmeras lives, uma nova forma de ver a vida e o mundo...

E ‘os caminhos não acabam...’ G. Rosa.

Por: Fabiana Ratti, psicanalista

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Semana Molière no Artes e Debates

Molière - dramaturgo, ator e encenador francês (1622-1673) - escreveu mais de 30 peças, todas elas criticando a sociedade, a hipocrisia e os costumes inúteis.  


"Doente Imaginário" um dos melhores títulos para a psicanálise. Essa encenação do grupo Galpão mostra o quanto temos de doentes imaginários, doentes psíquicos pelo mundo... que se confunde com doenças biológicas e então não buscam o tratamento que seria melhor para o aparelho psíquico e continuam dando trabalho para os familiares, para as pessoas em volta e o sistema de saúde. 

Don Juan - O clássico conquistador que temos em diversas sociedades que arrasa o coração das moças com frases de efeitos psicológicos... Molière faz com maestria apontando hipocrisias e mentiras que nossa sociedade ajuda a construir...


 Escola de Marido e Escola de Mulheres mostram tradições e costumes da época. Século XVII, outra relação com os costumes homem e mulher que Molière já criticava e ridicularizava naquela época. 

A psicanálise que surge no século XX trabalha para que as pessoas consigam traduzir em palavras o que sentem e consigam se colocar, se posicionar, sem cair  em armadilhas imaginárias... doenças, amores e situações sociais desnecessárias.

terça-feira, 7 de abril de 2020

A Vida é Bela de Benigni e O Covid-19



A comédia dramática A Vida é Bela (1997) do Italiano Roberto Benigni se passa na
Segunda Guerra Mundial e narra a vida de Guido Orefice, um judeu dono de uma livraria na Itália fascista. Ele é levado para o campo de concentração em Berlim junto com seu filho pequeno e para suavizar a vida de seu filho, brinca que aquilo é um jogo.

Em 1997, quando assisti, senti que a 1ª parte do filme era maravilhosa e a segunda parte grotesca, de mal gosto, como brincar daquele modo com uma situação tão séria, onde morreram tantas pessoas de forma tão violenta?!

A psicanálise é um exercício de reflexão que muda a realidade. A reflexão faz com que a gente  veja e entenda as situações e o mundo de uma forma diferente, ressignifica o passado dando um outro sentido para nossas ações e decisões.

Foi o que aconteceu com esse filme para mim... 23 anos depois. Agora, neste momento histórico, tenho lembrado muito desse filme... Na época, não tinha filhos, hoje, com duas crianças entendo melhor a questão de um pai em querer suavizar a realidade...

A negação é um processo psicológico que nos impede de ver muitas coisas, às vezes, trazendo grandes prejuízos, outras, nos salva... Guido Orefice conseguia “negar a realidade”, obedecendo à realidade. Incluía regras e restrições, chatices e penúrias, com muito bom humor.  

Hoje, sem saber o futuro... as consequências e transformações pelas quais passaremos... sabemos que a Vida é Bela, que todos querem continuar vivendo... que queremos que quem amamos vivam conosco... e o humor, misturado com o faz de conta, torna sim a Vida mais Bela, e mais leve de ser vivida...

Nesses anos todos, jamais pensei que um dia diria isso, mas esse filme mereceu o Cannes, o David Di Donatello e todos os Oscares que ganhou. Para além dos fatos históricos, nossa estória somos nós quem a escrevemos...

Por: Fabiana Ratti, psicanalista 

sexta-feira, 13 de março de 2020

Corona vírus, o crash da bolsa de 29 e o pânico das massas


Em 1921 Freud escreveu “Psicologia das massas e análise do eu” em que fala o quanto o ser humano é suscetível a um líder, a um comando, e o quanto as pessoas perdem a capacidade de raciocinar, passando a agir apenas pelo emocional pela via da identificação. Essa suspensão da razão vem acontecendo diante do Covid-19. Todos sabemos o quanto temos muitas outras epidemias, acidentes e violência em nosso país, mas há uma ‘identificação Universal’ que está paralisando o mundo de forma devastadora. Esse fato nos mostra, acima de tudo, o quanto Freud estava certo ao colocar no começo do século passado que somos muito mais comandados pelo nosso inconsciente/emocional, do que pelo nosso consciente/racional. 

Mesmo sabendo de estatísticas e dados, agimos por desespero e pânico. Quantas
pessoas se suicidaram com o crash da bolsa de 1929? Quantas pessoas perderam trabalhos, projetos, família e dessa forma, perderam a vida? Esse vírus pode trazer mazelas biológicas, mas, acima de tudo, a forma de encará-lo está tirando sonhos, projetos, dinheiros e oportunidades para pessoas e países, podendo arrastar o mundo para uma situação devastadora. O vírus é o vilão? Não. Mas a forma de recebe-lo e enfrenta-lo poderia ser diferente. Urge que a sociedade inclua mais a saúde mental e possa ter mais forças para se destacar das massas e utilizar as emoções em parceria com a razão para tomar as diretrizes cabíveis em situações como essas.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Perversões em debate



              William Bouguerreau (1825-1905) The Oreads (1902)
                                            

Neste ano de 2020 faremos um grupo de estudos sobre perversão de sexta feira às 14hs e vou esclarecer aqui algumas razões de porque estudar as perversões:

1 – Ao estudar as perversões, estudamos as outras estruturas: neurose e psicose. Das estruturas propostas por Freud: neurose, psicose e perversão; a perversão é a menos estudada, e ao fazer isso, sempre fazemos referência à neurose, a qual Freud mais se dedicou e à psicose, a qual Lacan trouxe grandes avanços.

2 – O segundo motivo para estudar as perversões é que muitos ainda colocam o perverso somente como aquele absoluto carrasco que açoita seu parceiro com chicote na cama. O restante não é perverso. Isso é o mesmo que dizer que a histérica deveria ser ainda hj aquela que em 1900 fazia conversão somática e ficava paralisada na metade do corpo, ou cega, ou falava em outra língua. Existem vários mitos em relação ao perverso. E isso se dá por falta de estudo. Por falta de avanço teórico e discussão clínica. Frases como: “o perverso não procura atendimento”. “não existem mulheres perversas.” Ou mesmo a concepção de que eles seriam somente este carrasco estereotipado. Todos esses são mitos por falta de estudo. Os sintomas mudam conforme o passar do tempo, temos de acompanhar a perversão.

3 – O terceiro motivo seria porque podemos dizer que existe a estrutura perversa, mas hj em dia discute-se muito: o empuxo à perversão, o perverso polimorfo, acting out perverso, a posição perversa, o modo de gozo perverso. Ou seja, a perversão não está lá excluída, longe e distante. Ela está no dia a dia, na clínica, na política, nas relações sociais, mesmo que o sujeito não tenha uma estrutura perversa, suas faces e nuances estão na sociedade e é preciso estudar para manejá-la.   

4 – O quarto motivo é que estamos construindo uma sociedade cada vez mais perversa. Então, além da clínica, precisamos articular com a sociedade, com a política. E a lógica da perversão é o desmentido, a negação: eu vi, mas não vi a lei. Eu vi, mas vamos brincar que não vi. Isso acontece direto em nossa sociedade atual e precisamos discutir, nos posicionar frente a isso.

Vamos estudar... venham participar... Assim como Freud enfrentou o saber médico e construiu a metodologia da psicanálise a partir das neuróticas; assim como Lacan trouxe grandes contribuições para a psicose, não deixando apenas para o ramo da psiquiatria, apresentando uma nova forma de atuação clínica; agora é o momento de não recuarmos ante à perversão e elaborarmos novos manejos compatíveis com o século XXI, usufruindo constructos vindos de Freud e Lacan sobre esse saber.

Por: Fabiana Ratti, psicanalista.

Grupo de estudos: Perversões em debate






psicanálise de Freud a Lacan


Que a crueldade e a pulsão sexual estão intimamente correlacionadas é-nos ensinado, acima de qualquer dúvida, pela história da civilização humana...” Freud, 1905, p.150. Três ensaios sobre a sexualidade infantil.

Mas é exatamente neste frígido e repugnante semidesespero, nesta semicrença, neste consciente enterrar-se vivo, por aflição, no subsolo ...; nesta situação intransponível criada com esforço e, apesar de tudo, um tanto duvidosa, em toda esta peçonha dos desejos insatisfeitos que penetraram no interior do ser.” Dostoievski, Notas de um subsolo


Psicanalista: Fabiana Ratti
Assistentes: Jessica Olivieri e Guilherme Figueiredo

Toda sexta feira – a partir de 6 de março de 2020 das 14h às 15:30h.
Local: Rua Cônego Eugênio Leite, 933 cj 75. Pinheiros
Whatasapp (11) 999558857
Site: fabianaratti.com.br insta: fabianaratti



quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

“Além do Princípio do Prazer”, Freud (1920-2020).





Neste ano faremos uma grande festa em comemoração
aos 100 anos do texto:

“Além do Princípio do Prazer”, Freud (1920-2020).

Venham participar!

Neste texto revolucionário Freud apresenta os conceitos:

- Pulsão de vida e de morte
- Compulsão à repetição
- Estado de inércia psíquica

- Passou assim para a segunda tópica do aparelho psíquico e nos comunicou que ficar só no prazer é muito pouco... existe algo além!!!


segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Amar não tem preço e a posição feminina para Lacan



 
Amar não tem preço (2006) é um filme francês dirigido por Pierre Salvadori e estrelado pela bela e talentosa Audrey Tautou. Irène (Tautou) é uma jovem interesseira que vive aplicando golpes em senhores mais velhos e endinheirados com o intuito de subir ao altar, mas sempre comete gafes, atos falhos, que a impedem de alcançar "seu objetivo". Até que encontra um jovem simples e o amor fala mais alto.

Irène passa a dar aulas a Jean (Geld Elmaleh) excelente ator marroquino, de como “tirar” dinheiro e seduzir os mais velhos. Ela dá aulas sobre a posição feminina, discutida por Lacan no Seminário XX. Irene nunca bate de frente, suspira e fala frases que ficam pela metade, deixa seu desejo subentendido por entre linhas... frases que deixam o desejo em aberto.

Je voudrais...
Je voulais...
I wish...
I would like...
I would love...
Eu gostaria...
Eu adoraria...

No discurso masculino, aparece muito no divã o quanto as mulheres são chatas, reclamam, batem de frente, voltam na mesma tecla, querem tudo do jeito delas... Irene dá uma aula sobre a posição feminina. Como conseguir todos os seus desejos com um sorriso no rosto, gestos delicados e muito suspiro...

Quando, na adolescência, lia Conan Doyle, ele já avisava que Sherlock Holmes e seu arqui-inimigo Moriarty tinham as mesmas características, as mesmas habilidades. A grande diferença é que um utilizava essas habilidades para o crime e o outro para resolvê-los, ajudando a Scotland Yard e a nação.

O filme apresenta essa mesma questão para a posição feminina, dando ao sujeito a liberdade de escolha, de que forma atingir seus objetivos e utilizar suas habilidades.

Lacan, nesta mesma linha, aponta a diferença entre fazer sintoma (ficar reclamando, chorando, mandando) e Saber Fazer com a vida..., com estilo, com talento, direcionar a vida e as situações de maneira gentil e inteligente... Se for por amor, aí então, não tem preço!!

Fica a dica!

Por: Fabiana Ratti, psicanalista.