Moana
(2016) é um filme de animação musical americano produzido e distribuído pela
Walt Disney Picture. Moana, uma heroína com traços tropicais e miscigenados,
vivia com sua família numa ilha amaldiçoada onde os coqueiros davam coco
estragados e as águas não davam peixe, assim, era preciso atravessar a
arrebentação para pescar, o que passava a ser muito perigoso.
Moana,
quando criança, encontra uma pedra, o que a torna, a próxima líder do grupo e a
responsável por quebrar a maldição de anos. Uma tarefa bastante ousada para uma
adolescente, mas que é bem bonito de ver a confiança com que a avó aposta na
neta e como esta assume a responsabilidade sem titubear.
Para
a psicanálise lacaniana, o olhar dos pais e da família para com o bebê que
chega no lar, faz toda a diferença em relação à confiança e à responsabilidade
que esta vai assumir ao longo de sua vida.
Um
ponto que me causou profunda interrogação foi como Moana, vivendo numa ilha,
conseguiu passar a infância e a pré-adolescência, longe do mar???? Como é
possível? Numa ilha paradisíaca, com céu azul, coqueiros e vegetação abundante,
uma água azulada e areia macia, passar anos e anos sem ir para a praia? Isso me
causou mais interrogação do que a aventura que Moana enfrenta solitária em sua
jangada em mar aberto.
Morar
em uma ilha e não ir ao mar “é como mergulhar
num rio e não se molhar. É como não morrer de frio no gelo polar”
(diria Skank). Podemos recorrer ao conceito de “privação” de Lacan para pensar
sobre isso. O quanto temos perto de nós tantas coisas boas, tantos recursos,
tantos lugares para ir, mas nos privamos e nem ao menos sabemos o que estamos
perdendo... Quando vamos a primeira vez, descobrimos que estamos perdendo
bastante, então temos de nos responsabilizar para voltar, para fazermos
programas que nos fazem bem, que tem a ver com nosso estilo pessoal, com nossa
identidade.
Em
se tratando da missão de Moana, ela é bem corajosa e isso é muito admirável!
Por seu povo e por sua ilha, ela coloca a jangada em alto mar, enfrenta as
tormentas do mar, luta com o inimigo e retorna sã e salva para trazer fartura e
prosperidade a seu povo.
Muitas
vezes temos a sensação de estarmos sozinhos em alto mar. Sentimos que as ondas
vão nos levar, que as tempestades vão nos destruir e que o inimigo irá nos
devorar. Aí então, no dia seguinte, um novo céu azul aparece, as águas ficam
calmas e vemos que nossos talentos parecem mágicas como as de Moana. Segundo
Lacan, cada um tem seu talento, tem seu poder, e se soubermos utilizá-los
podemos ir longe, assim como Moana, mar aberto, horizonte para todos os lado.
Só é preciso ter coragem!
Por: Fabiana Ratti, psicanalista lacaniana.
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