segunda-feira, 3 de junho de 2019

Moana: um mar de aventuras


Moana (2016) é um filme de animação musical americano produzido e distribuído pela Walt Disney Picture. Moana, uma heroína com traços tropicais e miscigenados, vivia com sua família numa ilha amaldiçoada onde os coqueiros davam coco estragados e as águas não davam peixe, assim, era preciso atravessar a arrebentação para pescar, o que passava a ser muito perigoso.

Moana, quando criança, encontra uma pedra, o que a torna, a próxima líder do grupo e a responsável por quebrar a maldição de anos. Uma tarefa bastante ousada para uma adolescente, mas que é bem bonito de ver a confiança com que a avó aposta na neta e como esta assume a responsabilidade sem titubear.

Para a psicanálise lacaniana, o olhar dos pais e da família para com o bebê que chega no lar, faz toda a diferença em relação à confiança e à responsabilidade que esta vai assumir ao longo de sua vida.     
Um ponto que me causou profunda interrogação foi como Moana, vivendo numa ilha, conseguiu passar a infância e a pré-adolescência, longe do mar???? Como é possível? Numa ilha paradisíaca, com céu azul, coqueiros e vegetação abundante, uma água azulada e areia macia, passar anos e anos sem ir para a praia? Isso me causou mais interrogação do que a aventura que Moana enfrenta solitária em sua jangada em mar aberto.

Morar em uma ilha e não ir ao mar “é como mergulhar num rio e não se molhar. É como não morrer de frio no gelo polar” (diria Skank). Podemos recorrer ao conceito de “privação” de Lacan para pensar sobre isso. O quanto temos perto de nós tantas coisas boas, tantos recursos, tantos lugares para ir, mas nos privamos e nem ao menos sabemos o que estamos perdendo... Quando vamos a primeira vez, descobrimos que estamos perdendo bastante, então temos de nos responsabilizar para voltar, para fazermos programas que nos fazem bem, que tem a ver com nosso estilo pessoal, com nossa identidade.

Em se tratando da missão de Moana, ela é bem corajosa e isso é muito admirável! Por seu povo e por sua ilha, ela coloca a jangada em alto mar, enfrenta as tormentas do mar, luta com o inimigo e retorna sã e salva para trazer fartura e prosperidade a seu povo. 

Muitas vezes temos a sensação de estarmos sozinhos em alto mar. Sentimos que as ondas vão nos levar, que as tempestades vão nos destruir e que o inimigo irá nos devorar. Aí então, no dia seguinte, um novo céu azul aparece, as águas ficam calmas e vemos que nossos talentos parecem mágicas como as de Moana. Segundo Lacan, cada um tem seu talento, tem seu poder, e se soubermos utilizá-los podemos ir longe, assim como Moana, mar aberto, horizonte para todos os lado. Só é preciso ter coragem! 

Por: Fabiana Ratti, psicanalista lacaniana. 

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