Falar sobre Harry Potter dispensa
apresentações. É a saga de 7 livros e oito filmes de fantasia mais lidos e
vistos em toda a história. Comecei a
lê-los quando já tinha minhas filhas, apenas por volta de 2010, já quase 15
anos da publicação do primeiro livro em 1997. Foi bem emocionante viver esse
universo. Foram quase dois anos e após cada livro lido, víamos os episódios com
emoção, comentávamos, brincávamos representando os personagens queridos que
passavam apuros e com sagacidade, criatividade, muita amizade, companheirismo e
magia venciam os mais difíceis obstáculos.
Como psicanalista, o que mais me
impressionou, logo no começo do primeiro livro, foi a característica humana que
Harry Potter tinha. Quando pensava que ia ler um livro de um bruxo, o que mais
me vinha à cabeça era a capacidade dele conseguir ter tudo aquilo que ele
queria. E, muito me espantou ao ver o quanto de limitações, regras e
dificuldades no trato com os colegas; o quanto Harry sofria com preconceitos,
boicotes e invejas. Situações humanas que nós passamos e, mesmo conseguindo
atravessar paredes para pegar o trem e usar a capa da invisibilidade sem
ninguém vê-lo, ele sofre do ponto humano mais discutido em análise: a
castração. A dificuldade que o ser humano tem de ser limitado, amputado, castrado.
Para tudo ter um preço e ao escolher algo, ser necessário abrir mão de muitas outras
coisas.
Quando eu era pequena, eu
assistia ao seriado A Feiticeira. E esta sim, balançando o nariz, conseguia
sair das mais diversas situações. Samantha, A Feiticeira, também mostrava uma
vida bem humana, situações do cotidiano, situações com marido e família. Porém,
a única limitação que a deixava em apuros era que o feitiço só poderia ser
desfeito pelo próprio feiticeiro que o fez e, sua família a deixava de cabelos
em pé com feitiços que punham seu marido ‘humano’ em apuros. Fora isso, era uma
alegria!! Ela conseguia maravilhosamente se livrar de tarefas chatas como lavar
a louça, passar aspirador de pó, ou fazer uma bela refeição em minutos. Ou
mesmo trocar de roupa em um segundo, arrumar um brinquedo para a filha ou estar
em Paris no momento seguinte. Samantha quase não sofria de castração. Ela podia
ter tudo. Ter muita idade e ser jovem. Ter um marido humano que não gostava de
magia e continuar fazendo magia sem ele perceber muito. Podia colocar uma
piscina no quintal nas tardes de calor só para dar um mergulho e depois
desfazê-la.
Harry Potter e seus amigos não.
Eles precisavam ler, estudar, fazer provas. Hogwarts, a Escola de Bruxarias,
tinha regras rígidas, consequências, castigos. Não era possível fazer feitiço
fora da escola, o que dificultava bastante a situação para Harry, pois ele
tinha uma missão e verdadeiros inimigos que muitas vezes, pareciam ter forças
mágicas superiores às dele, afinal, ele ainda era um menino que estava na
escola.
O bonito de Harry é, sobretudo, a
bela mensagem que ele deixa. Mensagem de amizade, união, força, batalha,
persistência. A mensagem para usarmos a cabeça e o coração nas situações que
enfrentamos. De ficarmos do lado do bem, ajudarmos o outro, fazermos ligações
entre as pessoas por um propósito de vida. A responsabilidade que temos em
diversas situações e a importância de cada um nessas situações. Harry Potter é
inteligente, estratégico, querido com as pessoas, dedicado, um grande mago. Mas
não é narcisista. Ele sabe reconhecer o valor de cada um em sua vida, a
contribuição de cada um na resolução do problema maior. Harry Potter e seus
amigos são muito queridos e transmitiram ideais humanos importantes para toda
uma geração. As castrações (limitações) sentidas por eles, só os tornam mais
humanos e os aproximam mais de seus fãs!
Por: Fabiana Ratti, psicanalista
lacaniana.
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