Os Incríveis (2004) e Os Incríveis
2 (2018) são filmes de animação produzidos pela Pixar e distribuídos pela Walt
Disney, escritos e dirigidos por Brad Bird.
No começo de Os Incríveis, os super heróis estão banidos de atuar e precisam
ficar fazendo trabalho burocrático, escondendo seus talentos, levando a vida na
mesmice e na mediocridade do dia a dia. É um pouco a sensação que sentimos sobre
as injustiças da vida. O quanto, muitas vezes, pessoas incompetentes e até
maldosas ocupam cargos de liderança, enquanto pessoas talentosas, generosas e
que realmente fazem a diferença, ficam excluídas de sua atuação.
Mas, como a psicanálise enfatiza,
é preciso seguir o desejo, o talento, aquilo que cada um tem de melhor para
oferecer, aquilo que faz do sujeito UM. Singular e único.
Beto, o pai, é forte. Helena, a
mãe, é elástica. Vitória, a filha adolescente, se fecha numa bolha e protege a
família. Flecha, o filho menor, é veloz. E o bebê também tem super poderes.
Eles são os ‘Supers’. Além da parceria com Lúcio, gelado, ‘Super’ amigo da
família que aparece nas situação mais difíceis para proteger e ajudar a família
a fazer o bem na cidade. Inteligentes e estratégicos, mesmo banidos, não resistem
em usar os seus talentos em prol de fazer uma diferença para a humanidade.
O que é interessante em Os Incríveis 2 é o quanto é difícil
para todo ser humano lidar com o cotidiano e com as próprias fraquezas, como
arrumar a casa, cuidar de um bebê, dar aula de matemática para o filho, ajudar
uma adolescente na relação com o namorado. Mesmo os superpoderosos têm seus
pontos fracos e saber lidar com eles, faz uma grande diferença no caminhar da
vida. Por outro lado, também podemos pensar o quanto esses personagens são mais
humanos do que parecem. Lógico que vemos no filme um grande imaginário, um
mundo da fantasia computadorizado que rompe a lei da física. Porém, muitas
vezes, as pessoas creem terem menos poder do que realmente têm, o que faz com
que elas se subestimem e não exerçam todo seu potencial, Se
observarmos bem, cada um tem seu super poder. A questão é saber identifica-lo,
nomeá-lo e investir nele para que grandes conquistas possam ser feitas.
Outro ponto interessante é a
parceria em família. Não importa a idade ou o sexo, cada um ali tem seu talento
e é respeitado em seu potencial. Mesmo havendo uma hierarquia e um comando dos
mais velhos, naquilo que a criança contribui com seu poder, ela é ouvida e
respeitada. As briguinhas de irmãos ou as diferenças entre cada um deles se
anula quando a responsabilidade os chama. Isso é o que Freud chama de ‘narcisismo
das pequenas diferenças’, saber ultrapassar as diferenças e conseguir se unir
em prol de um projeto, em prol de um objetivo maior, essa é uma das funções da
análise. Barrar satisfações equivocadas e direcionar o psíquico para realização
de desejos que gerem construção.
Por: Fabiana Ratti, psicanalista
lacaniana
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