Seguindo a linha animação, vamos
falar sobre Divertidamente (2015),
comédia dramática americana lançado pela Walt Disney Pictures. A trama se passa
na mente de Riley, uma menina de 11 anos que sai de Minnesota e muda-se com
seus pais para São Francisco, quando seu pai consegue um emprego.
É bem interessante a trama estabelecida
entre Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho, sentimentos personificados que
se agitam na mente de Riley com as novas emoções de mudança de cidade, de
escola, de amigos, de casa... Para a confecção do filme, os autores e diretores
consultaram equipes de psicólogos e neurocientistas criando um excelente
retrato do mundo interno, dos conflitos emocionais e brigas internas que
acontecem na mente e no coração das pessoas.
Como psicanalista, o que me
pareceu interessante, foi mostrar o quanto é difícil assumir a tristeza. Há
uma
expectativa de que a alegria domine. Realmente, é muito bom quando as coisas
vão bem e podemos sentir alegria. Porém, a mudança de cidade, o encontro com o
novo, estabelecer novas relações; sabemos que são tarefas árduas,
principalmente para uma menina de 11 anos. É importante dar vazão à tristeza. É
importante que a pessoa chore, que faça uma espécie de luto do que foi vivido e
não será mais, do que foi perdido. Novas pessoas e moções virão, porém, é
importante que a pessoa entre em contato com a tristeza. Em Luto e Melancolia
(1915), Freud escreve que se a pessoa não realizar o luto, chorar, sofrer e se
despedir do objeto perdido, essa dor pode virar uma melancolia, trazendo dores
e consequências no futuro.
O filme mostra algo bem “moderno”
que é um esforço para não dizer que se está triste, para não entrar em contato
com o sofrimento, para só sentir prazer.
Esse é um sentimento enganoso. Não adianta ficar tentando driblar o
sofrimento. Ele existe. Assim como a alegria, a raiva, o medo, o nojo, ou
qualquer outro sentimento. Entrar em contato com o sentimento, nomeá-lo e lidar
com ele é a forma mais saudável de enfrentar as situações presentes e se
direcionar para as situações futuras.
Muito interessante também foi ver
e entrar no universo de memórias de Riley. O quanto as memórias têm um valor
afetivo, como catalogamos segundo uma lei emocional e não racional, o quanto
algumas coisas que ‘esquecemos’ no passado podem parecer memórias tão vívidas
no presente, como o ‘amigo invisível’ de Riley: Bing Bong.
Divertidamente mostra mecanismos psíquicos
de forma alegre e divertida. Também mostra o medo e a esperança da mãe, a raiva
e a apreensão do pai, ou seja, outras mentes em conflitos, cada uma atuando ao
mesmo tempo numa família... ainda mais quando há mudanças em jogo ... Pessoas
interessantes e projetos novos vão aparecer, mas é importante se despedir do
antigo e conversar, dialogar.
Ficou parecendo ao espectador que
a família quase não havia conversado a respeito da mudança e das perdas. Que
existia uma expectativa de que Riley amasse tudo: quarto novo, escola nova e
soubesse lidar maravilhosamente com o novo. Quando Riley passa ao ato, toma uma
atitude e preocupa os pais, eles conseguem sentar, conversar, ouvir e traduzir
em linguagem os medos e as fantasias que estavam rondando em sua mente.
A partir de então, Riley poderia
realmente ter uma nova vida.
Por: Fabiana Ratti, psicanalista lacaniana
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