quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Lord Mountdrago de Somerset Maugham





Por: Fabiana Ratti 

Somerset Maugham (1874 – 1965) escreveu novelas, peças de teatro e diferentes formas de ficções. Eu o conhecia de romances policiais e histórias de suspense. Nas férias, temos mais tempo para saborear esses mistérios e me deparei com o livro “Lord Mountdrago”. Iniciei a leitura. Para minha surpresa se tratava de um tratamento de psicanálise!

A princípio, uma loucura, pois a descrição do Doutor Audlin, o psicanalista, era de quem operava mágicas e milagres. Com o passar da narrativa, Dr. Audlin pareceu ser um homem sensível, uma pessoa sensata, com uma boa relação médico-paciente, principio básico para o tratamento analítico. Com pensamentos e perguntas ponderadas e uma excelente condução do tratamento.

Então, Doutor Audlin descreve um caso inusitado... Lord Mountdrago, ilustre membro do Governo Britânico, aparece em seu consultório, porque anda tendo sonhos tortuosos.

Somerset Maugham é muito perspicaz ao descrever a vergonha, o incômodo que é para uma ilustre pessoa pública, bem sucedida e abastada financeiramente, recorrer ao humilde exercício de se colocar frente a um psicanalista. Recostar-se no divã e falar das próprias dificuldades, inseguranças e incertezas, como se um homem bem sucedido não as tivesse...

A queixa de Lord Mountdrago são sonhos que se repetem e se tornam pesadelos. No mais, Lord Mountdrago se diz uma pessoa exímia: família, filhos, profissão, honestidade. O único empecilho é realmente o sonho. Ele sonha com uma única pessoa que o persegue e passa situações inusitadas e ridículas. Acorda nervoso, exaurido, chegando a perder o sono, a fome. O sonho afeta o seu dia, a produtividade. Dr. Audlin pede para que ele desenvolva, fale mais dessa pessoa que sempre aparece em seu sonho, sua relação e diferenças com essa pessoa... No que o Lord Mountdrago ofereceu grande resistência.

Até então, eu pensava ser uma intrincada discussão psicanalítica. Dr. Audlin até consegue furar a resistência e “abrir o inconsciente” do paciente, como diz Lacan, quando o analista consegue fazer com que o paciente fale profundamente sobre um assunto difícil. Derrapa quando dá um conselho bastante moralista ao paciente, porém, é preciso relevar devido ao grande valor literário da obra e então, Maughan faz a virada... e volta a ser o respeitável autor policial já meu conhecido. Ele tem uma sacada brilhante, inusitada, original e que faz esta obra ficar entre os grandes romances policiais.

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