Educação
Educação de Lone Scherfig é um belo filme. É a história de Jenny, uma menina de 16 anos ( Carey Mulligan, 24 anos), inocente e sonhadora. Vive o conflito entre viver uma vida de adulta com viagens, bares, amor e sexo, ou continuar menina em sua vidinha de estudos e bom comportamento para se chegar a uma Universidade.
A princípio, nada de novo em seu enredo, existem tantos filmes semelhantes, é apenas mais um belo filme entre tantos. Porém, ele dá margem a um debate de grande importância na atualidade: onde estão os pais no direcionamento da vida dos filhos?
A própria Jenny tem uma frase brilhante aos pais, mais no final do filme em que diz, mais ou menos assim: “ok, eu me iludir, sou uma menina de 16, mas e vocês? Onde estavam?” E, é esta a sensação que passa ao longo do filme. Onde estão os pais? Eles não estão vendo? Não para impedir ou proibir, mas no mínimo, conversar e dialogar a respeito de como Jenny vai levando sua vida.
Existe um pacto de silêncio e negação. O aparelho psíquico tem este mecanismo. O sujeito nega o que está vendo por alguma razão particular. No caso, medo de discutir as questões com a filha? Vontade de estar vivendo o que ela estava vivendo? Desejo que a filha casasse logo? Não é possível sabermos ao certo. Em cada caso há uma razão. Mas que houve uma negação e um pacto de silêncio na família, houve.
O pai, (Alfred Molina) que parecia tão sério e controlador, sempre caia no ‘blablabla’ de David (Peter Sarsgaard), o conquistador mais velho. A mãe (Cara Seymour) tentava ajudar as saídas da filha sem nem tocar em riscos como a perda do ano letivo, o consumo de drogas ou gravidez.
A família contextualizada no filme é de classe média, sem grandes recursos financeiros, porém, muito acesso intelectual. Jenny tem aulas de francês e violoncelo, tem acesso a estudos e bons livros. Ou seja, há uma evidência de que o que está em jogo é o deslumbre, a cegueira do aparelho psíquico e não uma falta de recursos intelectuais e racionais para apreender a situação.
Este é um debate que precisa ser feito na sociedade para o acesso a tratamentos e recursos de saúde mental que, vai para além do acesso a instruções intelectuais. Entre tantos exemplos, podemos escolher um: gravidez na adolescência. As grávidas não tiveram instruções? Nenhuma delas tinha informação a respeito do ato sexual e seus possíveis riscos? Doenças? Gravidez?
Concordo que temos questões sociais e educacionais gravíssimas! E que boa parte das doenças e gravidezes indesejadas vem desta esfera. Porém, também sabemos que pessoas que teriam acesso a ótimas informações e recursos contraceptivos deixam de usá-los. Por quê? Precisamos debater mais as questões de saúde mental. O aparelho psíquico é preso pelas garras de seus mecanismos de defesa impedindo a visão. Tanto dos jovens quanto de seus pais, que também, pegos por seus inconscientes, deixam de agir e se posicionar perante seus filhos.
E, também, não vamos nos iludir... existe o posicionamento dos pais e a atitude dos filhos.Cada um é sujeito. Cada um decide por si. Mas, como psicanalista, aposto que há uma diferença na escolha dos caminhos da vida quando pessoas importantes do adolescente se posicionam, se autorizam a intervir. Ou, no mínimo, se conseguir que exista diálogo. Como psicanalista, muitas vezes, na clínica, me deparo com a interrogação de Jenny: “onde estavam os pais?”
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