Por: Fabiana Ratti
Noites Brancas, obra escrita por Fiodor Dostoiévcki em 1848, dirigida no cinema por Luchino Visconti, interpretado no cinema por Marcello Mastroianni e Maria Schell. Podemos dizer que seria um ‘anti-dostoiévski’ assim como Nelson Rodrigues escreveu o “Anti-Nelson Rodrigues”. A obra possui sua carga dramática, mas de toda a sua obra é a mais lírica, poética e romântica.
No filme de Visconti, numa noite em São Petersburgo, o personagem de Mastroiani encontra, por acaso, a sofrida e sonhadora Nástienka que espera o seu amor. Uma pessoa que há um ano prometara-lhe voltar e salvá-la de sua vidinha triste e solitária ao lado da avó. O filme se passa na noite marcada de seu possível reencontro.
Este filme, principalmente por ser representado por Marcelo Mastroiani, me remeteu a uma colocação bem interessante de Freud em que este diz que não são os atributos físicos da pessoa, as carências de encanto, as inferioridades orgânicas ou algum desenvolvimento imperfeito que faz com que a pessoa seja tomada pela timidez e inibição de sentimentos de inferioridade. Freud discute que a clínica comprova que também pessoas com belos atributos físicos e pessoas desejadas por outras, também são ‘tomados’ por sentimentos de inferioridade. Chegando à conclusão que “Na etiologia das neuroses, a inferioridade orgânica e o desenvolvimento imperfeito desempenham papel insignificante (...)As neuroses fazem uso de tais inferioridades como um pretexto...” para não se aproximar do outro. Somente um pretexto, as neuroses são construções do aparelho psíquico, não condizem com a biologia ou fisiologia da pessoa.
E, Noites Brancas, com o galã Marcelo Mastroiani, com belos atributos físicos e sem nenhuma carência de encantos, demonstra, de forma poética, esta evidência clínica. O quanto é possível ficar tomado pelas emoções, pelas inseguranças e medos, e assim, em alguns momentos, fica difícil agir e se colocar como um amor real e possível. Ou seja, agir diante do mundo e do ser amado. Ao contrário, as neuroses aparecem, inibem o sujeito e este passa a viver mais de sonhos e de neuroses e menos de realidade.
Dostoievski, sempre uma bela obra!
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