terça-feira, 2 de julho de 2019

De Volta para o Futuro e o eixo “tempo-espaço” numa análise



De Volta para o Futuro (1985), filme americano de ficção científico foi dirigido por Robert Zemeckis, produzido pela Universal e por Stevens Spielberg, estrelado por Michael Fox (Marty) e Christopher Lloyd (Dr. Emmett Brown). Fez tanto sucesso na época arrecadando a maior bilheteria do ano e assim foi produzido o De volta para o Futuro II e o De volta para o Futuro III. 

Claramente inspirado nas aventuras de Júlio Verne, com o professor cientista e seu assistente, em um dos 3 filmes, o cientista de De Volta para o Futuro, faz referência a gostar de lê-lo em seu tempo de mocidade.

Doctor, como Marty chama o cientista, tem várias ideias inspiradoras e máquinas malucas na tentativa de ir ao passado. Doctor explica pela física como é possível viajar no tempo dependendo da velocidade, pressão e temperatura que a máquina do tempo possa atingir. O cientista faz cálculos, experimentos e ele sempre justifica que é uma questão no eixo “tempo-espaço”.

Como psicanalista, penso que a análise é uma viagem no tempo. É uma questão no eixo “tempo-espaço.” É um momento em que o sujeito para tudo o que está fazendo, desliga o celular e conta histórias do passado remoto e passado recente. Acontecimentos, situações, sensações e emoções. Momentos que ficaram esquecidos, mas que fazem parte da história do sujeito e que afetam seu presente e seu futuro.

A proposta do filme é ir ao passado, modifica-lo e voltar para o presente com uma nova realidade. Para a psicanálise isso ainda não é possível. Talvez pela física quântica isso possa acontecer, pela psicanálise não. Porém, é possível voltar ao passado e ressignificá-lo. Ver com outros olhos. Encontrar outras explicações. Mudar o foco. Reconsiderar os vilões e as mocinhas. Os protagonistas e os artistas principais.   

Mudando o foco nesta relação tempo espacial, podemos modificar o nosso presente e, desta forma, o
nosso futuro. No terceiro filme da série, doctor fala que o destino pertence ao sujeito, à decisão de cada um. E a responsabilidade que cada um deve ter com o presente para que o futuro seja interessante.

A partir da questão tempo e espaço também podemos pensar em outro ponto da psicanálise. O filme traz uma inspiração para esses tempos de internet. Esse momento em que o mundo fica pequeno. Podemos estar conectados a qualquer pessoa, a qualquer cidade, a qualquer país pelo mundo afora. Um tempo espaço impensável para os anos 1980. Hoje é possível atender pessoas em vários países, a qualquer momento dia/hora. Não é preciso mais o setting, a presença física, o ir e vir ao analista. Basta o desejo. É como diz o cineasta brasileiro Glauber Rocha: “basta uma câmara na mão e uma ideia na cabeça.”  Um contato com a internet, o desejo de falar, o desejo de ouvir... temos assim uma análise atravessando tempo e espaço. Rompendo barreiras físicas inimagináveis. É preciso uma abstração. É preciso apostar no desejo, na escuta. O analista pode atravessar muros, pode estar virtualmente conectado e ter a mesma presença de analista para o inconsciente. Como diz Gilberto Gil por volta do ano do lançamento de De volta para o Futuro: “Tempo espaço navegando em todos os sentidos.”

Os psicanalistas, assim como todos os profissionais que revolucionaram o modo de trabalho com as inovações eletrônicas e a internet, também podem acompanhar o seu tempo...

Por: Fabiana Ratti, psicanalista

Nenhum comentário:

Postar um comentário