1984 – de George Orwell
Por: Fabiana Ratti, Psicanalista Lacaniana
Livro de leitura obrigatória em muitas faculdades, 1984 é um
clássico que merece ser lido. Orwell consegue mostrar o extremo de uma
sociedade de controle, um poder supremo, uma situação de constante vigília,
inclusive no momento de reprodução e constituição da prole.
Podemos pensar em momentos históricos em que existia esse
grau máximo de vigilância, como no tempo de Hitler ou no socialismo em que
todos espionavam e delatavam vizinhos e amigos. Também podemos extrapolar para outros
períodos históricos, principalmente nossa sociedade atual, com um número cada
vez maior de câmaras espalhadas pelas cidades e informações em tempo real.
Todos sabem de tudo: “Big Brother is watching you”, dando nome ao nosso atual
programa de auditório numa casa em que tudo é filmado, tudo é controlado e
espionado, por um líder e por todos em volta.
Que mundo é esse? Seria o nosso? Quais semelhanças e quais
diferenças? Seria Orwell um visionário?
Prática e objetivamente falando, se “somos todos olhados”, precisamos
nos responsabilizar por nossos atos e pelo que divulgamos. Se existe o furo. O
vazio. Ele será preenchido com algo. Comentamos e reclamamos, muitas vezes, do
quanto este vazio está sendo preenchido com lixo. Bailes funks, humores
grosseiros, programas inúteis e sem conteúdo. Há 15, 20 anos, pouco podíamos
fazer. Se quiséssemos escrever algo, publicar, falar; era preciso entrar em
contato com um jornal e a chance de ter nosso pensamento publicado era ínfima.
Hoje, temos todos os recursos. Sites, blogs, facebook,
youtube. Podemos nos expressar, falar o que queremos, dar aulas. Como tudo tem
dois lados, ser olhado pode ser uma fonte de horror e perseguição, uma
exposição descabida de nossas vidas particulares, um modo de gerar inveja e
competição. Até mesmo uma forma rápida e ágil para assaltantes e traficantes, o
comércio de drogas e armas cresceu vertiginosamente, assim como outros
comércios. Por outro lado, temos acesso a nossos amigos que não víamos há anos,
podemos falar com agilidade com pessoas que não tínhamos acesso e
principalmente, ter responsabilidade em ocupar o vazio com o que consideramos
importante e útil.
Se o mundo faz avanços e não há como retroceder, não sejamos
nostálgicos em relação ao passado, mas,
ao contrário, se “estamos sendo olhados” e se “somos controlados pela mídia e
pelos forças de controle”, que saibamos escolher dentre estas forças, quais
seremos controlados, e responsáveis com o que publicamos para contribuir para
nosso futuro.
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